Fogo no Cerrado - Coluna de Margrit
Schmidt Jornal de Brasília - 03/03/2012
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Essa “Comissão da Verdade” é a grande falácia alimentada pelos surrados
clichês das esquerdas.
Agora temos a previsível e pertinente reação dos militares. Essa
discussão está irremediavelmente contaminada pelo viés político-ideológico e
não atende aos interesses públicos de busca de verdades históricas ou punição
de crimes do passado. Simplesmente porque, como já é mania no governo petista,
revoga a institucionalidade que nesse caso tem nome: Lei de Anistia. Está claro
que não eram democratas os militares que estavam no poder. Mas tampouco eram
democratas aqueles que tentavam derrubar os militares do poder.
A elite política e econômica aliada aos militares promoveu um golpe de
Estado. Os atentados terroristas não buscavam derrubá-los para instituir,
então, um regime democrático no País. Os ditos “re v o l u c i o n á r i o s ”
queriam também uma ditadura, só que a socialista.
Morreram 424 pessoas combatendo o regime militar – algumas delas com
armas na mão, trocando tiros com as forças de segurança ou tentando articular
guerrilhas. Outras foram assassinadas depois de rendidas pelas forças de
repressão do Estado. Um absurdo não justifica outro absurdo, simples assim. Os
grupos de esquerda no Brasil, embora em pequeno número e muito menos armados do
que o Estado repressor mataram 119. E são mortes quase indigentes porque não
têm o pedigree esquerdista. Os combatentes guerrilheiros foram
assassinados porque escolheram correr o risco de desafiar – isolados do
conjunto da sociedade - o regime militar. Já a esmagadora maioria dos
indivíduos assassinados pelos grupos de esquerda eram pessoas que nada tinham a
ver com a “luta”,nem de um lado nem de outro. Apenas estavam no lugar errado na
hora errada: comerciantes, pedestres, motoristas, clientes de banco e guardas.
Foi a luta dos democratas – não a dos partidários dos regimes ditatoriais
socialistas – que nos restituiu um regime de liberdades públicas e respeito ao
estado de direito.
O fosso que vai se abrindo entre a presidente Dilma Rousseff e os
militares está ficando muito rápido muito fundo. O canal pago Globonews produziu
um documentário sobre a morte, ainda cercada de mistérios, do deputado Rubens
Paiva nos porões do regime. Os militares falaram abertamente sobre o tema. O
general Rocha Paiva disse com todas as letras; “vamos chamar a presidente para
depor”. Há também a tentativa do Ministério Público de contornar a Lei de
Anistia, há toda uma insatisfação militar com a Comissão da Verdade que até
então não estava tão explícita.
EM EBULIÇÃO
O general Luiz Eduardo Rocha Paiva não é nenhum “bagrinho”. Até 2007,
estava em posições de destaque no Exército, foi comandante da Escola de Comando
do Estado-Maior do Exército e secretário-geral do Exército. Para ele, a
Comissão da Verdade não é imparcial, é maniqueísta. “Por que não promover
também os esclarecimentos dos atentados terroristas e sequestros de pessoas e
aviões, e de execuções, justiçamento até de companheiros da luta armada”,
disse. O general sugeriu que os crimes ainda não solucionados podem ser
investigados pela Polícia Federal. Para coroar a polêmica, o general ainda
declarou não acreditar que seja verdade que Dilma foi torturada. A ministra
Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, afirmou que a Comissão da
Verdade será instalada em abril. Dilma tem menos de dois meses para escolher
sete nomes. Sem os nomes, o paiol já ameaça pegar fogo, com os nomes pode
explodir. Vai ser difícil agradar aos dois lados, os militares e a esquerda
revanchista. A ideia de jerico do promotor da Justiça Militar do Rio de
Janeiro, Otávio Bravo, de criar uma manobra jurídica que permitirá contornar a
Lei de Anistia e reabrir as investigações envolvendo o desaparecimento de
Rubens Paiva, Mário Alves de Souza, Stuart Angel Jones e Carlos Alberto Soares
de Freitas quando presos pelos órgãos de segurança em 1971, vem para atiçar
ainda mais o fogo. Para ele, como o STF equiparou o crime de desaparecimento
forçado com o de sequestro, considerando ambos os crimes permanentes, e os
corpos nunca foram encontrados, os crimes envolvendo os quatro desaparecidos
ainda estariam sendo executados hoje e, portanto, não caberia a aplicação da
Lei de Anistia. E o ministro da Defesa, Celso Amorim, ao contrário de seu
antecessor Nelson Jobim, que se notabilizou como excelente bombeiro, é um
conhecido e repudiado incendiário.
Dilma tem menos de dois meses para escolher sete nomes. Sem os nomes, o
paiol já ameaça pegar fogo, com os nomes pode explodir
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