Por Reinaldo Azevedo – Veja.com
De
todas as tolices que se dizem sobre a tal “Comissão da Verdade”, a maior delas
é a que sustenta que ela não tem nada a ver com revanchismo. Ora… Trata-se de
revanche, sim, ainda que ela se situe no terreno da pura narrativa. As pessoas
diretamente envolvidas com essa comissão já deixaram mais do que claro que se
trata de contar a história segundo a ótica das esquerdas. Como elas perderam
aquele confronto — curiosamente, só chegaram ao poder por meio do método que
rejeitavam: as “eleições burguesas”!!! —, tentam agora vencer a outra luta: a
do “bem” (elas) contra o “mal” (os outros).
O
nome disso é revanche. A ideia de que o Estado defina uma “verdade” oficial,
diga-se, já é de um autoritarismo escandaloso. O país é livre. As universidades
são autônomas. Os historiadores podem trabalhar à vontade. Por que há de ser o
aparelho estatal a dizer “a” verdade? O fato de a academia — com raras e
honrosas exceções — não reagir ao estabelecimento de uma “verdade oficial” e
apoiar a iniciativa dá conta da indigência intelectual média da turma. Sigamos.
Essa
Comissão da Verdade não resiste a algumas indagações básicas.
1 - Vai reconstituir, no detalhe, o assassinato do soldado do Exército
Mário Kozel Filho, morto a 11 dias de completar 19 anos? Serão listados os
participantes do atentado que o matou e os chefes das organizações
terroristas?
2 -
Serão reconstituídos as últimas horas de vida do tenente da Polícia Militar
Alberto Mendes Júnior, que teve o crânio esmagado a coronhadas por Carlos
Lamarca e seu bando?
3 - Vão reconstituir, em suma, as circunstâncias da morte de pelos
menos 119 pessoas, assassinadas por grupos de extrema esquerda?
4 - Terá a comissão a coragem de contar também esse lado da “verdade”,
indicando, reitero, os nomes dos chefes dessas operações — e Dilma Rousseff
foi, sim, dirigente de duas organizações que mataram pessoas?
5 - A comissão será independente o bastante para demonstrar que a
maioria desses mortos não tinha nem mesmo ligação com a luta política?
As
minhas perguntas são meramente retóricas porque eu já sei a resposta. Ora, se o
objetivo da Comissão da Verdade é reconstituir a história segundo o exclusivo
ponto de vista da esquerda, partindo das premissas falsas de que os terroristas
de então queriam democracia e só optaram pela luta armada porque não tinham uma
alternativa, não é Comissão da Verdade, mas da mentira; não é aposta
na pacificação, mas na revanche.
Os
xingamentos todos eu já conheço; espero contra-argumentos.
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