"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

sábado, 16 de março de 2013

País tem ministros demais e estabilidade política de menos


- Para especialistas, inchaço no primeiro escalão ajuda a contemplar partidos aliados, mas deixa a gestão mais instável

-Para o Bo@noia isso faz parte do Projeto de Poder do Lulopetismo.

Às voltas com a demissão do sétimo ministro em menos de seis meses, a presidente Dilma Rousseff sofre os efeitos de comandar o maior ministério desde a redemocratização, em 1985. Ao mesmo tempo em que o inchaço no primeiro escalão ajuda a contemplar partidos aliados, deixa a gestão menos técnica e mais instável. Mesmo com tantas alterações forçadas por denúncias de corrupção, a fórmula de loteamento permanece a mesma, sem perspectiva de mudança.
O governo conta atualmente com 24 ministérios e 14 secretarias ou órgãos com o mesmo status. Além disso, tramita no Congresso Nacional a criação da 39.ª pasta, das Micro e Pequenas Empresas. Historicamente, a quantidade de ministros “puros” não sofreu grandes variações desde o governo José Sarney (1985-1990), mas houve um avanço significativo no tamanho do primeiro escalão.
Enxugamento
Presidente do PMDB já defendeu redução para 28 pastas
O primeiro a defender o enxugamento dos ministérios brasileiros foi o presidente do PMDB, Valdir Raupp. No mês passado, após as primeiras quatro trocas de ministros (dois deles peemedebistas), ele sugeriu que o ideal era uma redução das 38 para 28 pastas. Ele citou como exemplo uma possível fusão entre os ministérios do Trabalho e da Previdência.
O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), concordou com uma possível diminuição, mas enfatizou que os partidos aliados “não poderiam ficar à deriva”. Na semana passada, foi a vez do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que publicou em seu site que a principal falha do governo é o excesso de ministérios. Na declaração, ele admitiu que deveria ter reduzido o número de secretarias quando foi governador do Paraná.
Até agora, os posicionamentos encontraram pouco eco no Palácio do Planalto. A reforma ministerial prevista para janeiro deve apenas substituir ministros que vão participar das eleições municipais, como o petista Fernando Haddad (Educação), que vai concorrer à prefeitura de São Paulo. A tendência é que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, também seja trocado nessa leva. (AG)
Sarney teve os mesmos 24 ministérios de Dilma, Lula e Fernando Henrique Cardoso, mas bem menos secretarias (cinco, contra 14, 13 e 7, respectivamente). Apesar de serem vinculadas à estrutura da Presidência da República e terem orçamento reduzido, órgãos e secretarias como a Casa Civil estão entre os mais estratégicos para o governo.
Na comparação entre os últimos seis presidentes, o gabinete mais enxuto foi o de Itamar Franco (1992-1994), com 25 pastas, mas o que teve menos ministros formais foi o de Fernando Collor (1990-1992), com 17. Em comum, todos eles adotaram o presidencialismo de coalizão e cederam vagas na Esplanada a partidos aliados. A gestão com mais parceiros foi a de Lula, que chegou a nomear ministros de dez legendas diferentes ao longo de oito anos.
Dilma conta hoje com representantes de sete siglas no primeiro escalão. O PT comanda 18 pastas, o PMDB, cinco, e o PSB, duas. PP, PDT, PR e PCdoB ficaram com um ministério cada, enquanto há apenas nove membros do primeiro escalão sem filiação partidária.
Entre todas as sete trocas de ministros que promoveu, a presidente só mudou a proporcionalidade entre os partidos quando substituiu Nelson Jobim (PMDB) por Celso Amorim (PT) na Defesa. As demais mudanças foram feitas em consenso com os partidos que já comandavam o órgão. Foi o PCdoB, por exemplo, que indicou Aldo Rebelo para o lugar de Orlando Silva no Esporte.
“No fundo, a proliferação de cargos é só para acomodar mais gente de diferentes interesses políticos”, diz o cientista político Antônio Octávio Cintra, da Uni­versidade Federal de Minas Gerais. Para ele, o excesso de ministérios contribui para a sucessão recente de escândalos. “O custo moral de legitimação dessa coalizão de tantos partidos é alto demais.”
Outro problema é de qualidade de gestão. Para o professor de administração pública José Matias Pereira, da Universidade de Brasí­lia (UnB), a quantidade de pastas só aumenta a complexidade da máquina estatal brasileira. “Estamos falando de um número de ministérios irracional, que ao longo do tempo vai consumindo mais e mais recursos. Quinze ministros já seriam mais do que suficientes.”
Professor da Pontifícia Uni­ver­sidade Católica do Paraná (PUCPR), Denis Alcides Resende defende que o Brasil precisa de uma reforma administrativa. “As mudanças precisam levar em consideração o conceito de inteligência pública, dividir as tarefas por funções, temas e eixos de interesse do cidadão. Se isso for feito, dez ministérios resolvem o problema.”

Gabinete dos EUA é quase metade do brasileiro
Em comparação com os demais países da lista de dez maiores economias do mundo, o número de ministros no Brasil só é menor que no Canadá e Índia e igual ao da China. De acordo com informações da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, em inglês), o país desse ranking com o primeiro escalão mais enxuto é a Alemanha, cujo gabinete tem 19 membros (15 ministros). Os Estados Unidos vem em segundo lugar com 23 (15 ministros).
A CIA mantém dados atualizados sobre as principais lideranças mundiais. Os gabinetes, além dos ministros, incluem os demais nomes do primeiro escalão (como secretários e presidentes de bancos centrais), os presidentes, vice-presidentes e chanceleres. Apontado pelo Fundo Monetário Internacional como o sétimo maior produto interno bruto (FMI) do mundo em 2010, o Brasil tem um gabinete maior que o dos Estados Unidos, Japão Alemanha, França, Reino Unido e Itália.

China
Com 1,3 bilhão de habitantes, a China tem os mesmos 24 ministros formais que o Brasil, que tem 194 milhões de habitantes. No total do gabinete, são 41 chineses contra 40 brasileiros (a conta soma Dilma Rousseff e o vice, Michel Temer). Os dois países mais ricos da América do Sul também possuem ministérios mais enxutos que o brasileiro. A Argentina tem apenas 15 ministros (19 membros de gabinete) e o Chile 22 (24 membros de gabinete).
Segundo o professor Denis Alcides Resende, os países europeus estão mais adiantados no conceito de “nova gestão pública” (new public management), que trata o cidadão como um cliente do serviço público. “É um modelo mais direto, participativo e concentrado. Com isso, há menos interferências políticas”, diz.



-Leia mais em www.boanoia.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário