Por Demóstenes Torres, via
Blog do Noblat
A tática do
governo, quando cai um integrante crivado pela corrupção, é considerar “café
requentado” o que se comenta dele pós-tombo.
Se alguém insiste
em criticar um programa oficial, logo recebe o epíteto de “monotemático”. Como
se a queda do cargo implicasse decadência do crime, não do delinquente; e
pretender mudança de rumos numa política pública danosa fosse simplesmente
“chatice dos cricris”.
Pois o Palácio do
Planalto pode aguentar que vou permanecer combatendo o dirigismo cultural, a
doutrinação, enfim, o sistema que quer na cabeça dos jovens não conhecimento,
mas uma boina com estrelinha.
Os exames
nacionais (Enem, Enade, Prova Brasil) recrutam militantes, como tantas vezes já
denunciado, e há problemas também nos vestibulares das federais. Os mais
recentes da Universidade de Brasília, como o 2011/2, mostram que a reitoria não
está ali para brincar, mas para filiar.
Seu serviço é
legitimar o que o senhorio apregoa. Integrantes do governo distribuíram obras
escolares ensinando a destruir a inculta e última Flor do Lácio, e confirmaram
que o certo é se expressar errado. Restava à UnB completar o ciclo. Ou seja,
quem conviveu com o equívoco no ensino médio se reencontra com ele na entrada
da faculdade.
Além de seis
questões averiguando se o candidato concorda que o Português foi implantado no
Brasil a marretadas, desrespeitando a fala de índios e o idioma dos imigrantes,
vem a redação.
Para se encaixar
no tema, é preciso explicar que “a língua de um povo não se faz com preconceito
nem com prescrição”. Tirou nota máxima quem reverberou os sons do Programa
Nacional do Livro Didático. Afinal, é preconceito corrigir quem afirma “nóis
vorta cum pêche”, conforme prescreve o politicamente correto.
Falha igualmente
ao fingir que avalia. O aluno estuda dia e noite sonhando com a UnB e encontra
dez assertivas sobre instrumentos musicais egípcios e o pandeiro como
membranofone e idiofone.
Coitado de quem
ignora a expressão facial no teatro “nô” e do trabalho corporal da arte cênica
“kabuki”. O que essa vastidão de sabedoria tem a ver com a atuação dos
acadêmicos de saúde e engenharia, nada foi dito nem perguntado.
O restante dos
textos imitou Enem e Enade: fazendeiros estão detonando (e não alimentando) o
mundo e “índio em área demarcada assegura a biodiversidade dos ecossistemas”
(vende a madeira e mata os bichos, mas tudo bem).
Os próximos
vestibular e Programa de Avaliação Seriada da UnB serão no início de dezembro.
Está feito mais um alerta, apesar de o governo querer que esqueçamos.
É outro
estratagema que está falhando: mesmo submetidas à doutrina, as vítimas acabam
de derrubar no voto os vassalos do esquema, mostrando que a instituição quer ser
um lugar de aprendizado e pesquisa, não de cartilha e comício.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)
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