"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O rastejante pecado da bajulação


Por Jefferson Magno Costa
     Na tradução da Bíblia mais usada entre os evangélicos brasileiros, a Almeida Revista e Corrigida, não existem as palavras adulador ou bajulador, e sim lisonjeador. Lisonjear é dirigir elogios interesseiros a alguém. O Dicionário Houaiss define lisonjear como “enaltecer com exagero, visando à obtenção de favores, privilégios”. Quase todo ser humano é vulnerável ao elogio, e poucos sabem se defender dos bajuladores. Todos nós estamos muito mais prontos para ouvir uma palavra de elogio, mesmo sendo mentirosa, do que cem palavras de exortação. O rei Henrique IV, da França, resumiu essa nossa vulnerabilidade ao dizer: “Apanham-se mais moscas com uma colher de mel do que com vinte tonéis de vinagre”.

     O bajulador carrega o bajulado no colo ou nas costas.

     Na tradução Almeida Revista e Atualizada, os lisonjeadores são chamados de bajuladores e aduladores. Bajular vem da palavra latina bajúlo, e significa “levar algo ou alguém no colo ou nas costas”. O curioso é que hoje o bajulado é que leva o bajulador nas costas. O fabulista francês La Fontaine dizia que “todo bajulador vive às custas de quem o escuta”. A bajulação é um comércio de mentiras que pelo lado do bajulador se apóia no interesse, e pelo lado do bajulado se apóia na vaidade.

     Não devemos confiar em quem elogia tudo quanto dizemos. Essa pessoa geralmente é perniciosa e tem segundas intenções. Em 1Ts 2.5, para não ser confundido com os bajuladores, Paulo declarou: “A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha”.

     O livro de Provérbios avisa que “o homem que lisonjeia a seu próximo arma uma rede aos seus passos” (Pv 29.5), e que “a língua falsa aborrece aquele a quem ela tem maravilhado, e a boca lisonjeira opera a ruína” (Pv 26.28).

     O adulador agrada o adulado festejando-o, como fazem os cães. Adular é a forma portuguesa do vocábulo latino “aduláre”, e significa etimologicamente “o movimento que o cão faz com a calda ao se aproximar do dono” (Dicionário Houaiss).

     Perguntaram a Biantes, um dos sete Sábios da Grécia, qual era o pior dos animais. Biantes respondeu: “Entre os selvagens, o sanguinário; entre os domesticados, o adulador”. Três séculos antes do nascimento de Jesus, o filósofo grego Antístenes advertira: “Nada é tão perigoso como a adulação. O adulado sabe que o adulador mente, mas continua a lhe dar ouvidos”.

     O salmista Davi diz no Salmo 12.2: “Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado”. O termo coração dobrado significa no original “pessoa que diz uma coisa, mas sente outra”. No versículo seguinte (v. 3) o salmista diz que “o Senhor cortará todos os lábios lisonjeiros”. Davi fala também dos que buscam a Deus com sinceridade de coração: “Todavia, lisonjeiam-no com a boca e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis ao seu concerto” Sl 8.36,3.

     Mas qual seria a verdadeira intenção do bajulador? Salomão revela: “Trabalhar para ajuntar tesouro com a língua falsa” (Pv 21.6). E Isaías extrai dos próprios bajuladores uma surpreendente confissão reveladora de suas condutas mentirosas: “...pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos” (Is 28.15). Que Deus nos guarde dos bajuladores.
Jefferson Magno Costa Pastor, jornalista e escritor - jefmagnocosta@ig.com.br

     O livro de Provérbios nos dá uma importante informação sobre adulados e aduladores: “Aos generosos muitos o adulam, e todos são amigos do que dá presentes” (ARA, 19.6). E o apóstolo Judas comenta por que os aduladores agem como agem: “...são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (Jd v.16).

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