Sinceridade e confiança
são pré-requisitos para um casamento sadio. Mas quando se fala
em traição, nem sempre se trata de infidelidade sexual ou afetiva. Existe outro
tipo de traição que pode arruinar um relacionamento: a infidelidade financeira.
Às vezes, para evitar brigas, os casais mentem ou
omitem informações financeiras do parceiro. Mas o tiro pode sair pela culatra.
Quando a verdade é revelada, o casamento pode entrar em xeque. Em relações onde
a confiança não mais existe, as enganações podem ser ainda piores. Não são
incomuns os casos de pessoas que tentam blindar o patrimônio por meio da
abertura de empresas ou de contas secretas para não terem de dividir os bens em
caso de divórcio.
Para evitar esse tipo de constrangimento, os casais
podem lançar mão de pactos pré e até pós-nupciais que mudem o regime de bens
para “separação total”, em que cada um é dono do que é seu e nada é partilhado
em caso de divórcio (saiba mais sobre os regimes de divisão de bens). Mas para
isso, é preciso haver confiança, diálogo e acordo de ambas as partes.
A mentira é sempre o pior caminho para manter,
salvar ou mesmo sair dignamente de uma relação. Mesmo as menores mentiras podem
minar a confiança e destruir toda a base sobre a qual é construído o
relacionamento. Casamentos são contratos e cada cônjuge deve se ver como uma
empresa que se fundiu com outra – manter a transparência é fundamental para o
bom andamento das finanças da família. Veja a seguir nove mentiras sobre dinheiro
que podem acabar com o seu casamento:
1. “Ah, esta
blusa? Foi presente”: esconder gastos e dívidas
Não são poucos os casamentos que acabam devido à
incompatibilidade financeira – em que um dos cônjuges é gastador e o outro é
contido. Esconder gastos entra no rol das mentiras financeiras irritantes que
deterioram uma relação. Algumas pessoas compram por impulso, gastam muito
dinheiro com bobagens e se tornam até gastadoras compulsivas, o que pode levar
a família ao endividamento.
No início, são pequenas mentiras: esconder o novo
jogo de videogame, dizer que tem aquele par de sapatos há anos, que a blusa
nova foi um presente ou que o gadget foi comprado em uma liquidação. Com o
tempo, as dívidas podem se multiplicar e se tornar impagáveis. Há quem faça dívidas
e não conte para o cônjuge - uma bomba que só vai estourar lá na frente, quando
as finanças da família estiverem completamente comprometidas. Em última
instância, são os herdeiros que vão ter que pagar essa conta.
2. “Foi apenas uma
cervejinha com os amigos”: nutrir um vício escondido
Na mesma linha, mas mais grave, estão as compulsões
secretas. Além de serem problemas sérios de saúde, vícios podem destruir uma
família, inclusive financeiramente. Em especial quando há mentiras envolvidas.
Quem joga, usa drogas, bebe álcool ou mesmo gasta compulsivamente tende a
esconder do outro enquanto sangra as finanças da família. Quando se tem um
problema dessa natureza e o casamento ainda tem salvação, o melhor é se abrir
com o cônjuge e pedir ajuda.
3. “Está tudo bem
no trabalho”: esconder um revés financeiro
Por incrível que pareça, há quem perca o emprego ou
sofra algum outro revés financeiro e esconda isso do parceiro, fingindo que
ainda trabalha normalmente. “Por uma questão de ego, a pessoa não consegue reduzir
o padrão de vida e continua gastando, pois não quer deixar faltar nada em casa.
Quando se vê obrigado a contar, a situação da família já foi para o buraco”,
diz André Massaro, especialista em finanças pessoais da consultoria MoneyFit.
4. “Que tia rica?”:
negar ter um parente abastado
Negar ser herdeiro de alguém de posses não só
representa uma quebra de confiança como pode ser desnecessário se o medo for
dividir a herança com o cônjuge em caso de divórcio. Heranças não são
comunicáveis, ou seja, não são partilháveis no regime de comunhão parcial. Só é
preciso dividir os frutos dessa herança – aluguéis, valorização de imóvel ou
rendimentos de aplicações que ocorrerem após o recebimento da herança e ainda
na vigência do matrimônio.
5. “Você é única
na minha vida”: manter uma segunda família com a amante
Embora a extensão da traição já seja motivo
suficiente para terminar um casamento, manter uma família paralela às
escondidas é um tremendo problema financeiro. A quantia destinada à amante e
aos filhos bastardos pode começar a fazer falta, levando a esposa a descobrir a
traição.
Manter uma segunda família não é crime. Mas em caso
de divórcio da esposa “oficial” e não oficialização da relação com a outra, os
problemas serão dobrados. “O homem vai ter que dividir o patrimônio. Ou divide
em dois, e dá a sua parte para a parceira não oficial, ou divide em três. Já há
jurisprudência para os dois casos”, afirma Rodrigo da Cunha Pereira, presidente
do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).
6. “Você sabe
exatamente quanto eu ganho”: esconder o valor real dos rendimentos
Alguns cônjuges mentem para o outro a respeito do
quanto ganham, ou escondem o recebimento de um bônus, de um aumento ou mesmo a
entrada de um dinheiro extra, no caso de um trabalho como freelance, por
exemplo. Quem faz isso normalmente quer manter uma quantia só para si, seja
para gastos “inocentes”, como um novo gadget, seja para despesas “escusas”. É o
chamado “caixa 3”. “No meio jurídico, chamamos informalmente de caixa 3 aquela
quantia que um cônjuge esconde do outro”, diz Rodrigo Pereira.
7. “Tudo que é meu
é seu”: manter uma conta secreta
O dinheiro do caixa 3 pode ser destinado a uma
conta ou uma aplicação mantida em segredo do outro cônjuge. Quem faz isso
geralmente quer impedir o acesso do restante da família ao “seu” dinheiro,
principalmente se não confiar nos parentes quando o assunto é finanças. Mas há
quem faça isso para tentar proteger parte do patrimônio em caso de divórcio.
Além de já ser uma tremenda quebra de confiança,
manter uma conta às escondidas é também inútil em caso de separação. Se a conta
estiver em território nacional, pode ser facilmente descoberta. Caso o regime
de bens do casal seja comunhão parcial de bens e os recursos da conta tiverem
sido gerados após o matrimônio, não vai ter jeito: os dois vão ter que dividir.
Se a conta for anterior ao casamento, pelo menos os rendimentos gerados após o
matrimônio deverão ser divididos.
“Se a pessoa não quer ter de dividir nenhum
centavo, é simples. Basta pedir a separação total de bens antes de casar”, diz
Pereira. Mesmo um pacto pós-nupcial, feito após o casamento, pode modificar o
regime de bens para a separação total. Mas para fazer isso, é preciso que haja
sinceridade e acordo entre os membros do casal.
8. Primeiro é “meu
bem”, depois “meus bens”: esconder o patrimônio atrás de um CNPJ
Há aqueles que, na iminência de um divórcio, se
antecipam ao processo e começam a “esconder” seus bens pessoais atrás de um
CNPJ. Abrem uma empresa e transferem para lá boa parte do seu patrimônio, na
tentativa de impedir que a quantia entre na partilha. Também há como fazer isso
usando um tipo de plano de previdência privada chamado Vida Gerador de
Benefício Livre (VGBL), em que o investimento fica em nome da seguradora e não
do beneficiário.
De acordo com Rodrigo Pereira, essa estratégia é
uma “mentira instituída”, pois se utiliza de um mecanismo legal. Os bens que
estão em nome de uma pessoa jurídica não podem entrar numa partilha de
divórcio. Mas embora seja legal abrir uma empresa para administrar seus
próprios bens – em muitos casos, há vantagens tributárias –, a tentativa de
ocultá-los da partilha pode ser caracterizada como fraude. Se detectada, não
haverá consequências criminais, mas os bens deverão ser partilhados de qualquer
forma.
9. “Tudo que eu
tenho está no Brasil”: manter uma conta ou empresa no exterior
Há quem sofistique a fraude e esconda o patrimônio
em uma conta ou empresa aberta no exterior. Nesse caso, é bem mais difícil
descobrir a fraude, embora não seja impossível. As implicações são as mesmas –
o patrimônio terá que ser dividido. “Se a atitude for caracterizada como de má
fé é possível fazer o que se chama de desconsideração da personalidade
jurídica”, diz Pereira.
Fonte:
Por Julia
Wiltgen em http://exame2.com.br/chrome/?canal=seu-dinheiro
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