Quanto à sua teologia, as igrejas presbiterianas
são herdeiras do pensamento do reformador João Calvino (1509-1564) e das
notáveis formulações confessionais (confissões de fé e catecismos) elaboradas
pelos reformados nos séculos 16 e 17. Dentre estas se destacam os documentos
elaborados pela Assembléia de Westminster, reunida em Londres na década de
1640. A Confissão de Fé de Westminster, bem como os seus Catecismos
Maior e Breve, são adotados oficialmente pela IPB como os seus símbolos de
fé ou padrões doutrinários. Outras igrejas presbiterianas adotam documentos
adicionais, como a Confissão Belga e o Catecismo de
Heidelberg. O conjunto de convicções presbiterianas, conforme expostas no
pensamento de Calvino, de outros teólogos e dos citados documentos
confessionais, é denominado teologia calvinista ou teologia reformada. Entre as
suas ênfases estão a soberania de Deus, a eleição divina, a centralidade da
Palavra e dos sacramentos, o conceito do pacto, a validade permanente da lei
moral e a associação entre a piedade e o cultivo intelectual.
No seu culto, as igrejas presbiterianas procuram
obedecer ao chamado princípio regulador. Isso significa que o culto deve
ater-se às normas contidas na Escritura, não sendo aceitas as práticas proibidas
ou não sancionadas explicitamente pela mesma. O culto presbiteriano
caracteriza-se por sua ênfase teocêntrica (a centralidade do Deus triúno),
simplicidade, reverência, hinódia com conteúdo bíblico e pregação expositiva.
Na prática, nem todas as igrejas locais da IPB seguem criteriosamente essas
normas bíblicas, embora elas tenham caracterizado historicamente o culto
reformado. Os problemas causados pelo afastamento desses padrões têm levado
muitas igrejas a reconsiderarem as suas práticas litúrgicas e resgatarem a sua
herança nessa área fundamental. Quando se diz que o culto reformado é solene e
respeitoso, não se implica com isso que deva ser rígido e sem vida. O
verdadeiro culto a Deus é também fervoroso e alegre.
Finalmente, a vida das igrejas presbiterianas
brasileiras não se restringe ao culto, por importante que seja. Essas igrejas
também valorizam a educação cristã dos seus adeptos através da Escola Dominical
e outros meios; congregam os seus membros em diferentes agremiações internas
para comunhão e trabalho; têm a consciência de possuir uma missão dada por
Deus, a ser cumprida através da evangelização e do testemunho cristão. Muitas
igrejas locais se dedicam a outras atividades em favor da comunidade mais
ampla, como a manutenção de escolas, creches, orfanatos, ambulatórios e outras
iniciativas de promoção humana. Cada igreja possui um grupo de oficiais, os
diáconos, cuja função primordial é o exercício da misericórdia cristã. O
presbiterianismo tem uma visão abrangente da vida, entendendo que o evangelho
de Cristo tem implicações para todas as áreas da sociedade e da cultura.
De Onde Viemos?
O presbiterianismo ou movimento reformado nasceu da
Reforma Protestante do século 16. Pouco depois que protestantismo começou na
Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma segunda manifestação
do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro ex-sacerdote,
Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo
movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O entendimento
de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e
em seu retorno às Escrituras fez com que recebesse o nome de movimento
reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como “reformados”.
Ao morrer, em 1531, Zuínglio teve um hábil sucessor
na pessoa de João Henrique Bullinger (1504-1575). Todavia, poucos anos mais
tarde surgiu um líder que se destacou de todos os outros por sua inteligência,
dotes literários, capacidade de organização e profundidade teológica. Esse
líder foi o francês João Calvino (1509-1564), que concentrou os seus esforços
na cidade suíça de Genebra, onde residiu durante 25 anos. Através da sua obra
magna, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas,
comentários bíblicos, tratados e outros escritos, Calvino traçou os contornos
básicos do presbiterianismo, tanto em termos teológicos quanto organizacionais,
à luz das Escrituras Sagradas.
Graças aos seus escritos, viagens, correspondência
e liderança eficaz, Calvino exerceu enorme influência em toda a Europa e
contribuiu para a difusão do movimento reformado em muitas de suas regiões.
Dentro de poucos anos, a fé reformada fincou sólidas raízes no sul da Alemanha
(Estrasburgo, Heidelberg), na França, nos Países Baixos (as futuras Holanda e
Bélgica) e no leste europeu, onde surgiram comunidades reformadas em países
como Polônia, Lituânia, Checoslováquia e especialmente a Hungria. Em algumas
dessas nações, a reação violenta da Contra-Reforma limitou ou sufocou o novo
movimento, como foram, respectivamente, os casos da França e da Polônia. As
igrejas calvinistas nacionais da Europa continental ficaram conhecidas como
“igrejas reformadas” (por exemplo, Igreja Reformada da França).
Outra região da Europa em que a fé reformada teve
ampla aceitação foram as Ilhas Britânicas, particularmente a Escócia, cujo
Parlamento adotou o presbiterianismo como religião oficial em 1560. Para tanto
foi decisiva a atuação do reformador João Knox (1514-1572), que foi discípulo de
Calvino em Genebra. Foi nessa região que surgiu a designação “igreja
presbiteriana”. Na Inglaterra e na Escócia dos séculos 16 e 17, o
presbiterianismo representou uma posição ao mesmo tempo teológica e política.
Com esse termo, as igrejas reformadas declaravam que não queriam uma igreja
governada por bispos nomeados pelo estado (episcopalismo), e sim por
presbíteros eleitos pelas comunidades. Foi na Inglaterra que, em meio a uma
guerra civil, o Parlamento convocou a Assembléia de Westminster (1643-1649), que
elaborou os documentos confessionais mais amplamente aceitos pelos
presbiterianos ao redor do mundo.
Nos séculos 17 e 18, milhares de calvinistas
emigraram para as colônias inglesas da América do Norte. Muitos deles abraçavam
a teologia de Calvino, mas não a forma de governo eclesiástico presbiterial
proposta por ele. Foi esse o caso dos puritanos ingleses que se estabeleceram
na Nova Inglaterra. Ao mesmo tempo, as colônias norte-americanas também
receberam muitas famílias presbiterianas emigradas da Escócia e do norte da
Irlanda. Foram essas pessoas que eventualmente criaram a Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos, cujo primeiro concílio, o Presbitério de Filadélfia, foi
organizado em 1706 sob a liderança do Rev. Francis Makemie, considerado o “pai
do presbiterianismo norte-americano”. O primeiro Sínodo foi organizado em 1717
e a Assembléia Geral em 1789. Em 1859, a Junta de Missões Estrangeiras da
Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos enviou ao Rio de Janeiro o Rev. Ashbel
Green Simonton, fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil.
A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de
igrejas que têm em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem
como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à
família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em
1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados
Unidos. Suas origens mais remotas encontram-se nas reformas protestantes suíça
e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuínglio, João
Calvino e João Knox. O nome “igreja presbiteriana” vem da maneira como a igreja
é administrada, ou seja, através de “presbíteros” eleitos democraticamente
pelas comunidades locais. Essas comunidades são governadas por um “conselho” de
presbíteros e estes oficiais também integram os concílios superiores da igreja,
que são os presbitérios, os sínodos e o Supremo Concílio. Os presbíteros são de
dois tipos: regentes (que governam) e docentes (que ensinam); estes últimos são
os pastores. Em 2005, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha aproximadamente
4.800 igrejas locais e congregações, 263 presbitérios, 64 sínodos, 3.800
pastores, 415.500 membros comungantes e 125.000 membros não-comungantes
(menores), estando presente em todos os estados da federação.
Fonte: http://www.mackenzie.br/7087.html
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