“Essa velha moral família Soprano, da
omertà odebrechtiana, é a confirmação de que vivemos numa cleptocracia, onde
quadrilhas saqueiam o Estado para se manter no poder”
Roubar, sempre se roubou, e muito, no
Brasil. Na era Lula, a novidade foi a introdução de uma nova categoria moral, o
“roubo pela causa”, que se justifica pela nobreza dos seus objetivos e faz de
seus autores guerreiros do povo brasileiro. Antigamente, se roubava só por
sem-vergonhice individual, mas com a tolerância, e até o estímulo, ao roubo
pela causa popular (eternizar o partido no poder para levar os pobres ao
paraíso) já não se sabe onde começa um e termina outro, resultando na certeza
de que nunca na história deste país se roubou tanto.
Outra novidade, que ajudou a gestar a
crise política e ética que nos assola, foi a institucionalização da corrupção,
ocupando cargos importantes em todo o governo e usando-os para enriquecer o
partido — e eventualmente alguns “guerreiros”, que ninguém é de ferro. Sim,
quando se rouba para um partido, todos os outros são roubados, porque se
concorre às eleições com mais recursos e com vantagens ilegais, para fraudar o
processo eleitoral. Na nova matriz, lavar propina como doação no TSE é legal: o
caixa três.
Talvez todos os partidos, se puderem,
roubem, mas só quem está no governo tem o poder de nomear e dar as vantagens
que resultam em propinas e extorsões para o partido. É muito pior para o país
do que o roubo individual.
Uma parte dessa “nova moral” da era
Lula certamente vem de suas origens sindicais, em que o certo, o direito e o
justo é conseguir o melhor para seus companheiros, e o resto que se dane. A
outra parte parece uma herança dos tempos da luta armada, quando a palavra de
ordem era “O que é o roubo de um banco comparado à fundação de um banco?”, de
Bertolt Brecht.
Hoje, Marcelo Odebrecht diz que fica
mais zangado com a filha que entrega quem roubou do que com a filha ladra, mas
eu ficaria muito mais decepcionado com uma filha que roubasse para um partido
do que para si mesma, confessasse o erro e assumisse as consequências. Essa
velha moral família Soprano, da omertà odebrechtiana, é a confirmação de que
vivemos numa cleptocracia, onde quadrilhas disputam territórios e saqueiam o
Estado para se manter no poder.
Norberto Odebrecht entre seu filho
Emílio e o neto Marcelo e com a imagem do pai, o pioneiro Emílio Odebrecht, ao
fundo (Foto: Divulgação)
Nelson Motta é
jornalista
Fonte: http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/09/nova-matriz-moral.html
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