FOLHA
DE SP - 03/11
-O
PT ensinou bem o ódio político ao Brasil e agora poderá provar do próprio
veneno
A presidente bolivariana
reeleita abriu seu novo reinado falando em diálogo. Gato escaldado tem medo de
água fria: seria este o mesmo tipo de diálogo oferecido à "Veja"?
Ou às depredações que a militância
petista fez à Editora Abril?
Ou às mentiras usadas contra
Marina Silva e Aécio Neves durante a propaganda política?
Ou às perseguições escondidas
a profissionais de diversas áreas que recusam aceitar a cartilha petista,
fazendo com que eles percam o emprego ou fiquem alijados de concursos e
editais?
Sei, muitos ainda negam a
ideia de que exista um processo de destruição da liberdade de pensamento no
Brasil. Mas, uma das razões que fazem este processo ser invisível é porque a
maior parte dos intelectuais, professores, jornalistas, artistas e agentes
culturais diversos concorda com a destruição da liberdade de pensamento no
Brasil, uma vez que são membros da mesma seita bolivariana.
O "marco regulatório da
mídia", item do quarto mandato bolivariano, é justamente o nome fantasia
para a destruição da liberdade de imprensa no país.
Diálogo? Sim, contanto que se
aceite a truculência petista e seus abusos de poder. Deve-se responder a este
diálogo com uma política de secessão. Não institucional (como nos EUA no século
19 entre o norte e o sul), não se trata de uma chamada à guerra, mas sim uma
chamada à continuidade da polarização política.
A presidente ganhou a eleição
dentro das regras e, portanto, deve ser reconduzida a presidência com soberania
plena.
Mas nem por isso ela deve se
iludir e pensar que representa o Brasil como um todo: não, ela representa
apenas metade do Brasil. A outra foi obrigada a aceitá-la.
Precisamos de uma militância
de secessão: que os bolivarianos durmam inseguros com o dia seguinte, porque
metade do país já sabe que eles não são de confiança.
Que fique claro que a batalha
foi ganha pelos bolivarianos, mas, a guerra acabou de começar, e começou bem.
O Brasil está dividido. Esta
frase pode ter vários sentidos. O partido bolivariano venceu de novo,
completando em 2018 16 anos no poder --o que já dá medo a qualquer pessoa
minimamente inteligente ou sem má-fé política.
A divisão do Brasil hoje é
fruto inclusive da própria militância bolivariana que insiste em falar em
"nós e eles".
O fato da eleição para
presidente ter sido decidida por alguns poucos votos a favor dos bolivarianos
não implica que o lado derrotado veja a vencedora como sua representante
legítima, ainda que legal.
O PT ensinou bem ao Brasil o
que significa ódio político e agora corre o risco de provar do próprio veneno.
Falo de uma secessão
simbólica, e que, creio, deve ser levada mais a sério pela intelligentsia
(normalmente a favor do projeto bolivariano, mesmo que, às vezes, com sotaque e
afetação francesa ou alemã).
Os intelectuais não estão nem
aí pra corrupção. Seu novo slogan é "rouba, mas faz o social".
Não, não estou dizendo que
aqueles que votaram contra o projeto bolivariano de domínio totalitário do país
devam recusar institucionalmente o resultado das eleições.
Estou dizendo que devem levar
a fundo uma política de recusa sistemática da lógica de dominação petista.
Os bolivarianos virão com sua
"democratização das mídias", outro nome fantasia pra destruir a
autonomia institucional, demitir gente "inadequada", tornar a mídia
confiável aos projetos do "povo deles" -- o único que aceitam. Na
verdade, fazer da mídia refém do movimento MTSM (os "trabalhadores sem
mídia").
Esta recusa deve ser levada a
cabo nas salas de aula das escolas de ensino médio (onde professores
descaradamente pregavam voto na candidata petista), nas universidades, nos
bares, nos empregos, nas redes sociais.
Dito de outra forma: a
polarização do debate deve continuar, e se aprofundar. Sem trégua. Do
contrário, o PT ficará no poder mil anos.
Pacto institucional,
governabilidade, vida normal dentro das instituições democráticas, sim.
Mas secessão política
cotidiana em todo lugar onde algum bolivariano quiser acuar quem recusar a
cartilha totalitária petista.
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta,doutor pela USP, ...
pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo,ciência. Autor de vários títulos, entre eles, 'Contra um mundo melhor' (Ed. LeYa).
Fonte: Mídia impressa
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