– Por CARLOS CHAGAS
A mais nova
irritação da presidente Dilma, despejada sobre seus principais auxiliares
palacianos, refere-se ao vazamento de informações sobre a nova equipe
econômica. Ela não gostou de ler o óbvio nos jornais, que Joaquim Levy seria o
novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e Alexandre Tombini
permanecendo no Banco Central. Depois de reunir-se com os três, separadamente,
em mais de uma oportunidade, queria o quê? Não se fala dos servidores do
cafezinho, aliás, requentado, que frequentam seu gabinete, mas dos novos
ministros, como também dos que serão substituídos ou remanejados. Claro que
todos comentaram as escolhas, mesmo não tendo recebido da chefona a comunicação
oficial. Não integrariam o primeiro escalão da equipe governamental caso
carecessem de percepção acurada. Como em especial os que não vão ficar. Eles
deixariam de ser mortais se não acusassem ressentimento. Acresce os novos
ministros: um brilho excepcional nos olhos, sorrisos exagerados, confidências
às secretárias ou simples comportamento extemporâneo – tudo são sinais
inequívocos de novidades. Nem se fala do trabalho dos jornalistas credenciados
no Planalto ou encarregados da cobertura econômica. E mais a torcida do
Flamengo, junto com o empresariado, atentos às mudanças programadas.
Esse episódio
corriqueiro leva-nos a passar do particular para o geral. O que chama a atenção
é o permanente estado de irritação da chefe do governo. Aliás, permanente desde
seus tempos no ministério das Minas e Energia, depois na Casa Civil e na
presidência da República. Ela está muito mais para Ernesto Geisel do que para
Fernando Henrique ou o próprio Lula. O general explodia até quando perdia o
jogo de biriba, o sociólogo respirava dez vezes antes de encontrar uma forma de
achar tudo normal e o líder sindical conseguia superar percalços virando um
copinho ou outro do precioso líquido escocês.
Dilma, não. Leva
para o palácio da Alvorada frustrações e ressentimentos, esmaecidos apenas
quando visitada pelo netinho. Como regra, porém, explode diante de
ajudantes-de-ordem, garçons, auxiliares de toda espécie e principalmente
ministros, cobrando justa ou injustamente falhas e omissões. Ou deveres de casa
diligentemente feitos.
Dilma aguentará
assim mais quatro anos? Ou, invertendo-se a equação, aguentará assim sua
equipe, renovada ou não? Impossível evitar o contágio. De uns anos para cá o
país ficou irritadiço. Intolerante por conta do sistema em cascata. Não tendo
em quem desabafar, o cidadão comum chuta o cachorro. Quando recebe um
“bom-dia”, indaga do interlocutor o porque, já que está chovendo ou fazendo
calor…
Necessitaria o
país de um refrigério. Vem aí o Natal, depois o Carnaval. Em paralelo, a crise
econômica, a roubalheira na Petrobras, a inflação e mesmo os rescaldos do sete
e um com a Alemanha. O diabo é saber que quatro longos anos custarão a passar.
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