Parece que foi
ontem. A dança chegando tímida ao espaço eclesial, procurando um cantinho nos
púlpitos das igrejas, mas, antes de tudo, buscando um lugar no corpo de cada
cristão que se arriscava a assumi-la em contexto tão “puritano”. Os anos voaram
e vivemos um outro extremo: púlpitos-palcos, inúmeros ministérios de dança com
uma enorme quantidade de participantes que se atrevem a se apropriar dessa arte
e criar uma “teologia” à parte, feita de modismos e bizarrices.
Quem me conhece,
sabe da minha posição contrária ao rumo da dança dentro da igreja evangélica. A
confusão doutrinária, teológica, litúrgica, espiritual que vivemos hoje
“colaborou” para que surgisse e se fortalecesse esse “movimento” de
reivindicação do lugar da dança na Igreja e da criação de conceitos em dança,
sem fundamentação bíblica. Deixo claro que não quero uniformizar um pensamento;
nunca foi meu objetivo nem acredito nisso. Porém, não compactuo com a baderna
no mau uso de textos bíblicos e o “achômetro” de alguns.
O mais importante
aqui, entretanto, é ressaltar que, até pouco tempo atrás, essa reflexão seria
direcionada apenas aos que participam dos ministérios de dança. Hoje, com o
“boom” do gueto gospel, dirijo-me a todos nós, plateia e -- por que não? --
consumidores, uma vez que escolhemos e adquirimos produtos artísticos.
Muitos de nós têm
deslumbrado-se com essa “onda da dança” e engolido espetáculos, apresentações,
DVDs, oficinas etc. sem o exercício da avaliação a partir do crivo do
evangelho. Com o surgimento de grupos de destaque, que têm infraestrutura e
elenco com boa técnica, a coisa piora! Acostumados a ver uma dança “mais ou
menos” feita em nome de Deus e a não questioná-la, nem hesitamos em consumir
quando há produção e bons bailarinos. O critério não pode ser “tem boa técnica
versus não dança bem”. O grande problema é o que está por trás da “dança da
igreja evangélica”. Minha questão aqui é mais teológica e bíblica do que
qualquer outra coisa.
Estamos distantes
do evangelho de Cristo, inclusive a dança que produzimos. Isso se revela na sua
falta de relevância e na “teologia da dança”, criada a partir das loucuras em
nome de Deus e de um mercado gospel que, à medida que o consumimos, nos consome
também. Não sou contra a dança entre os cristãos evangélicos, mas estou cansada
da “dança dos cristãos evangélicos”.
Qual é a
fundamentação da “dança gospel”? Por que e para quê uma “dança gospel”? Nosso
Cristo viveu “no” mundo, sem ser “do” mundo. Nosso Mestre era parte do povo
dele, confundia-se com ele e, dessa forma, tornava sua mensagem ainda mais
relevante. Bastaria sermos, portanto, de fato e em tudo, cristãos, e nossa
dança, como consequência da nossa liturgia diária, seria coerente com o
evangelho. Seria bonita de se ver, forte contra o sistema “do” mundo, e -- por
que não? -- necessária e fundamental para o pleno estabelecimento do reino.
Sejamos criteriosos, em nome de Cristo, por uma nova dança, por um movimento
novo.
• Carol
Gualberto é coreógrafa da UFMG e membro da Comunidade Presbiteriana
Central em Belo Horizonte, MG.
Fonte: Revista Ultimato / edicao
344 / Set/Out-2013
- Veja a posição da IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL sobre o assunto, no link: http://www.boanoia.blogspot.com.br/2013/10/decisao-do-supremo-conselho-da-ipb.html
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