"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Modelo falido

- Por MERVAL PEREIRA
O economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, é um crítico permanente do modelo de desenvolvimento adotado nos últimos 20 anos no país, que denomina Modelo Liberal Periférico, que na sua visão teria se agravado nos governos petistas de Lula e Dilma devido a uma política econômica equivocada e a um sistema político corrupto e clientelista.
Em seu recente trabalho “Déficit de governança e crise de legitimidade do Estado no Brasil”, Gonçalves analisa os protestos realizados no país em junho e, ao contrário da leitura predominante, atribui as suas causas não à insatisfação com as questões de mobilidade urbana, mas “a uma crise sistêmica que tem raízes estruturais e abarca graves problemas de governança e de legitimidade do Estado”. Ele considera “um equívoco” a exagerada a ênfase dada por pensadores de esquerda à influência do “inferno urbano” brasileiro nos protestos populares, pois “além de negligenciar as raízes estruturais da crise, este enfoque desconhece o papel dos catalisadores que são fenômeno recente e estão associados aos governos petistas (e seus aliados)”.
Esses “catalisadores” implicariam um país “invertebrado”, com a perda de legitimidade do Estado (executivo, legislativo e judiciário) e das instituições representativas da sociedade civil (partidos políticos, centrais sindicais e estudantis, organizações não governamentais, etc.). “Trata-se de um social-liberalismo corrompido por patrimonialismo, clientelismo e corrupção e garantido pelo invertebramento e fragilidade da sociedade civil”, diz Gonçalves.
Segundo os estudos de Reinaldo Gonçalves, o Modelo Liberal Periférico tem tido fraco desempenho pelos padrões históricos brasileiros e pelos atuais padrões internacionais, inclusive durante os governos Lula e Dilma. Suas principais características são: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro. Essa política gerou o que Gonçalves chama de "Brasil Negativado", que expressa a deterioração das condições econômicas e abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. As finanças públicas se caracterizam por significativos desequilíbrios de fluxos e estoques, além, naturalmente, dos problemas epidêmicos de déficit de governança e superávit de corrupção (Gonçalves, 2013b). O aumento da dívida das empresas e famílias tem causado crescimento significativo da inadimplência. O aumento da negatividade é resultado da política de crédito fortemente expansionista no contexto de taxas de juros absurdas, fraco crescimento da renda, inoperância da atividade fiscalizadora e abuso de poder econômico por parte dos sistemas bancário e financeiro. Milhões de pessoas (pobres e classe média) estão perdendo o sono diariamente porque estão negativados, não conseguem pagar suas dívidas.. E isto causa sofrimento e revolta.
A distribuição limita-se à redistribuição incipiente da renda entre os distintos grupos da classe trabalhadora de tal forma que os interesses do grande capital são preservados, ou seja, não há mudanças na estrutura primária de distribuição de riqueza e renda no que se refere aos rendimentos da classe trabalhadora versus renda do capital.
Segundo Reinaldo Gonçalves, os governos petistas e seus aliados são os principais responsáveis por esta situação, que estaria levando o país ao que chama de “desenvolvimento às avessas”. Na visão do economista da UFRJ, “social-liberalismo corrompido só se consolidou visto que sustentado por transferências e políticas clientelistas e assistencialistas. Depois de 10 anos de governo há a falência do PT que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país”.
Reinaldo Gonçalves diz que a probabilidade de que as revoltas populares atuais causem mudanças estruturais é pequena. Para ele, a trajetória futura é de instabilidade pelas seguintes razões:
1) a crise tem raízes estruturais;
2) a crise é sistêmica;
3) não é do interesse dos grupos dirigentes e dos setores dominantes realizar mudanças estruturais; e
4) no movimento popular não há convergência de entendimentos sobre as causas e responsabilidades da crise, nem sobre propostas de luta política.
O Brasil “entranha-se em trajetória de fraco desempenho econômico, com recorrentes momentos de instabilidade e crise, e embrenha-se em nuvens cinzentas que turvam o caminho do desenvolvimento social, político, ético e institucional em função dos problemas estruturais que não são enfrentados”, escreve Gonçalves.
Segundo seu estudo, o mais provável, é a repetição do nosso conhecido drama histórico: êxito no curto prazo da estratégia dos grupos dirigentes e dos setores dominantes, que contam com a perda de fôlego, exaustão e fadiga dos manifestantes.


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