"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

sábado, 24 de novembro de 2012

As loucuras de Deus


 - Por Ricardo Agreste
A ação do Senhor pode ser incompreensível para alguns, mas é fato inquestionável.
Os dados do último Censo revelaram o maior crescimento de um grupo religioso na história de nosso país. Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o percentual de evangélicos na população saltou de 2,6%, em 1940, para 22,2% em 2010. Somente nos últimos dez anos a presença evangélica subiu 6,8 pontos percentuais. Já são 42 milhões de evangélicos no país – e 60% são de origem pentecostal, totalizando 24 milhões de fiéis. O perfil econômico deste grupo aponta para o fato de seis entre cada 10 recebem menos do que um salário mínimo. Ou seja, o cenário no qual a fé evangélica mais cresce em nosso contexto envolve comunidades pentecostais fazendo diferença na vida de pessoas inseridas numa realidade muito simples.
Pesquisas como essa trazem imediatos questionamentos em nosso meio. Um dos mais recorrentes é: que tipo de crescimento é este do qual estamos falando? E o número de membros nestas igrejas, ele tem sido acompanhado pela transformação de vidas e da realidade em que estão inseridas? Qual o nível de consciência bíblica que esses milhões de pessoas que se afirmam evangélicas efetivamente possuem? Afinal, os números encontrados devem ser realmente motivo de festa? Confesso que minha propensão natural é a de entrar no vácuo de tais questionamentos e olhar para este mundo evangélico emergente com muito senso crítico. No entanto, temo também que podemos estar cometendo um profundo equívoco ao generalizarmos nossas percepções. Em meio à ação de líderes manipuladores e de massas com motivações equivocadas, existe, sim, algo acontecendo – e precisamos reconhecer isso.


Se andarmos pelas periferias das grandes cidades brasileiras e convivermos com o povo simples que frequenta as igrejas ali plantadas, vamos ouvir muitas histórias. São histórias de homens que abandonaram o álcool e se tornaram trabalhadores responsáveis; de jovens que superaram as drogas para serem obreiros em suas comunidades; ou de mulheres que deixaram a prostituição e hoje vivem na fidelidade conjugal, dedicando tempo e energia à criação dos filhos. Entre a população mais simples, o Evangelho tem feito profunda diferença. A fé representa mudança radical na vida de milhões de pessoas. Elas têm experimentado do poder da graça transformadora de Deus, mesmo pertencendo a comunidades cristãs onde a teologia é questionável e alguns conceitos extrapolam o que consideramos tolerável. A graça de Deus parece transcender algumas de nossas medidas teóricas, indo além de nossos limites teológicos.
Naturalmente, o crescimento evangélico em nosso país não é caracterizado, em seu todo, por esse tipo de experiência de transformação de vidas e histórias. É claro que existe muita manipulação, muitos líderes mal intencionados, muita gente que procura as igrejas apenas na expectativa de satisfazer suas necessidades materiais. Porém, é preciso reconhecer que, no meio de tantos abusos e erros, existem sinais da graça da manifestação da graça transformadora do Senhor. Isso é loucura para muitos de nossos teólogos mais conservadores, para os quais a ação de Deus não deveria acontecer em igrejas onde o Evangelho não é pregado com toda integridade e onde os fiéis não exercem a fé com as motivações corretas. Mas, para o escândalo deles, o Senhor tem agido também ali, proporcionando mudança espiritual, familiar e social a muitas pessoas inseridas naqueles contextos.
Essa gente simples, alvo da graça transformadora de Deus, age como aquele cego de nascença que, depois de curado por Jesus, foi interrogado pelos fariseus. Diante da insistência dos teólogos da época para que ele explicasse teologicamente o que havia acontecido, sua resposta foi simples: “Não sei explicar o que aconteceu. Só sei de uma coisa: antes eu era cego, e agora eu vejo.”
A forma como Deus tem alcançado e se relacionado com milhões de brasileiros, possivelmente, não corresponde à expectativa de nossos teólogos. No entanto, ela funciona como loucura neste mundo dominado pela sistematização lógica e racional do pensamento grego. Talvez, esse agir de Deus seja incompreensível para o entendimento de alguns, mas é fato inquestionável. O nosso Deus não se restringe às nossas formulações ou metodologias. Seu Evangelho é loucura para os gregos!
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