- Por Ricardo Agreste
A ação do Senhor
pode ser incompreensível para alguns, mas é fato inquestionável.
Os dados do último
Censo revelaram o maior crescimento de um grupo religioso na história de nosso
país. Segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
IBGE, o percentual de evangélicos na população saltou de 2,6%, em 1940, para
22,2% em 2010. Somente nos últimos dez anos a presença evangélica subiu 6,8
pontos percentuais. Já são 42 milhões de evangélicos no país – e 60% são de
origem pentecostal, totalizando 24 milhões de fiéis. O perfil econômico deste
grupo aponta para o fato de seis entre cada 10 recebem menos do que um salário
mínimo. Ou seja, o cenário no qual a fé evangélica mais cresce em nosso
contexto envolve comunidades pentecostais fazendo diferença na vida de pessoas
inseridas numa realidade muito simples.
Pesquisas como
essa trazem imediatos questionamentos em nosso meio. Um dos mais recorrentes é:
que tipo de crescimento é este do qual estamos falando? E o número de membros
nestas igrejas, ele tem sido acompanhado pela transformação de vidas e da
realidade em que estão inseridas? Qual o nível de consciência bíblica que esses
milhões de pessoas que se afirmam evangélicas efetivamente possuem? Afinal, os
números encontrados devem ser realmente motivo de festa? Confesso que minha
propensão natural é a de entrar no vácuo de tais questionamentos e olhar para
este mundo evangélico emergente com muito senso crítico. No entanto, temo
também que podemos estar cometendo um profundo equívoco ao generalizarmos
nossas percepções. Em meio à ação de líderes manipuladores e de massas com
motivações equivocadas, existe, sim, algo acontecendo – e precisamos reconhecer
isso.
Se andarmos pelas
periferias das grandes cidades brasileiras e convivermos com o povo simples que
frequenta as igrejas ali plantadas, vamos ouvir muitas histórias. São histórias
de homens que abandonaram o álcool e se tornaram trabalhadores responsáveis; de
jovens que superaram as drogas para serem obreiros em suas comunidades; ou de
mulheres que deixaram a prostituição e hoje vivem na fidelidade conjugal, dedicando
tempo e energia à criação dos filhos. Entre a população mais simples, o
Evangelho tem feito profunda diferença. A fé representa mudança radical na vida
de milhões de pessoas. Elas têm experimentado do poder da graça transformadora
de Deus, mesmo pertencendo a comunidades cristãs onde a teologia é questionável
e alguns conceitos extrapolam o que consideramos tolerável. A graça de Deus
parece transcender algumas de nossas medidas teóricas, indo além de nossos
limites teológicos.
Naturalmente, o
crescimento evangélico em nosso país não é caracterizado, em seu todo, por esse
tipo de experiência de transformação de vidas e histórias. É claro que existe
muita manipulação, muitos líderes mal intencionados, muita gente que procura as
igrejas apenas na expectativa de satisfazer suas necessidades materiais. Porém,
é preciso reconhecer que, no meio de tantos abusos e erros, existem sinais da
graça da manifestação da graça transformadora do Senhor. Isso é loucura para
muitos de nossos teólogos mais conservadores, para os quais a ação de Deus não
deveria acontecer em igrejas onde o Evangelho não é pregado com toda
integridade e onde os fiéis não exercem a fé com as motivações corretas. Mas,
para o escândalo deles, o Senhor tem agido também ali, proporcionando mudança
espiritual, familiar e social a muitas pessoas inseridas naqueles contextos.
Essa gente
simples, alvo da graça transformadora de Deus, age como aquele cego de nascença
que, depois de curado por Jesus, foi interrogado pelos fariseus. Diante da
insistência dos teólogos da época para que ele explicasse teologicamente o que
havia acontecido, sua resposta foi simples: “Não sei explicar o que aconteceu.
Só sei de uma coisa: antes eu era cego, e agora eu vejo.”
A forma como Deus
tem alcançado e se relacionado com milhões de brasileiros, possivelmente, não
corresponde à expectativa de nossos teólogos. No entanto, ela funciona como
loucura neste mundo dominado pela sistematização lógica e racional do
pensamento grego. Talvez, esse agir de Deus seja incompreensível para o
entendimento de alguns, mas é fato inquestionável. O nosso Deus não se
restringe às nossas formulações ou metodologias. Seu Evangelho é loucura para
os gregos!
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