A prioridade brasileira, neste momento, é retirar os brasileiros das áreas de maior risco na Líbia. Sem conseguir permissão do ditador Muammar Gaddafi para que aviões sobrevoem e principalmente pousem no país, o jeito foi recorrer a uma saída por mar.
Um navio de bandeira grega deve chegar entre hoje e amanhã a Benghazi, que fica no Mar Mediterrâneo e é o epicentro da revolta popular, para retirar pelo menos os 123 funcionários da construtora Queiroz Galvão. Há a possibilidade de outros aderirem à fuga. Ao todo, há cerca de 600 brasileiros hoje na Líbia, 400 deles concentrados na capital, Trípoli.
Uma segunda preocupação brasileira --e, de resto, de todo o mundo-- é com o preço do petróleo. O do tipo Brent, calculado em Londres, já passa dos US$ 100 o barril, o que se torna ainda mais assustador quando Gaddafi ameaça explodir poços no país e jogar a situação no puro caos.
Com a herança de descaso fiscal deixada por Lula, a necessidade de cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento, a inflação abusada e a tendência de juros altos, tudo o que não se quer é estouro no preço do petróleo e incertezas no cenário externo. Isso só pode ser bom para países exportadores, como a Venezuela de Hugo Chávez --aliás, amigão de Gaddafi.
A boa notícia é que o Brasil é produtor e autossuficiente. Por enquanto, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, dá uma versão tranquilizadora. Diz que a situação é "volátil" e não há razões estruturais para a alta do petróleo internamente.
Por último, o Brasil aderiu ostensivamente à pressão mundial, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, para tentar evitar um massacre de grandes proporções na Líbia. Como lembrou o chanceler Antonio Patriota, há uma diferença fundamental entre a revolta no Egito e a de agora na Líbia: no primeiro, o Exército não investiu contra a população civil.
Ao se dizer "líder da Revolução", depois de 42 anos no poder, Gaddafi desafiou os líbios e o mundo ao ameaçar só sair "como mártir". Ninguém, porém, é mártir contra seu próprio povo.
Ele já perdeu apoio popular, em cidades inteiras da fronteira com o Egito, não conta com qualquer boa vontade internacional. E vê escorrer pelas mãos a lealdade de seus diplomatas e de parte do Exército, cansados de um regime de um homem só.
Olhando de longe, o Brasil já tem uma certeza: é tudo uma questão de tempo. Cumpre-se, assim, a profecia: a revolta que começou na Tunísia, destronou Mubarak no Egito, está encerrando a era Gaddafi na Líbia e tem focos em outros países da região veio para valer. O mundo árabe já não é mais o mesmo.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.
Tomei uma bronca lá no COTURNO NOTURNO por pedir para ele explorar os movimentos contra as ditaduras na Lìbia e Oriente Mèdio.
ResponderExcluirSugeri que aproveitássemos a ocasião para insulflarmos os povos da América "Latrina" ,enquanto é cedo, a nos posicionarmos contra a ditadura velada que a boneca inflável e seu partido estão implantando no Brasil.
Um abraço,
Hans.