- Zuenir Ventura - O Globo.com
Por meio de
artifícios semânticos no discurso de posse, a presidente procurou disfarçar as
dificuldades que vai enfrentar no segundo mandato
Imagem Google |
Já que foi a
própria presidente que escolheu a imagem — talvez por identificação com o
universo rural de sua afilhada de casamento Kátia Abreu — vamos continuar com
ela. Como se recorda, a candidata Dilma assegurou que não mexeria nos direitos
trabalhistas e, para não deixar dúvida, repetiu uma expressão popular que
acabou invadindo de forma viral as redes sociais — “nem que a vaca tussa” — e
com a hastag #em direito meu ninguém mexe. Um sucesso, pelo menos até depois
das eleições, quando um dos primeiros anúncios de controle de gastos para
garantir o ajuste fiscal foi justamente restringir benefícios dos trabalhadores
tais como seguro-desemprego e abono salarial. A presidente teria resistido
muito a essas medidas, mas não houve jeito. São tempos de vacas magras, poderá
ter-lhe dito a equipe econômica, quem sabe. Ou, então, o mar não está pra
peixe, como afirmaria o jovem ministro da Pesca, Helder Barbalho, um dos sapos
que ela teve que engolir — sapo ou rã?
Por meio de
artifícios semânticos no discurso de posse, a presidente procurou disfarçar as
dificuldades que vai enfrentar no segundo mandato. Em vez de detalhar o que
pretende fazer para tentar a retomada do desenvolvimento econômico, por
exemplo, repetiu a defesa da Petrobras, não para uma autocrítica de seu
governo, mas para exaltar o seu combate à corrupção, atribuindo os escandalosos
desvios praticados na estatal a “alguns servidores” e a “predadores internos e
inimigos externos”. É como se a Dilma de agora não fosse uma herança da Dilma
dos últimos quatro anos, ou seja, como se Dilma não tivesse nada a ver com os
problemas que Dilma criou.
“Mais do que
ninguém, sei que o Brasil precisa voltar a crescer”, disse ainda a presidente
reeleita. “Os primeiros passos desta caminhada passam por um ajuste das contas
públicas, aumento na poupança interna, ampliação de investimento e elevação da
produtividade da economia.” Da mesma maneira que prometera manter todos os
direitos trabalhistas e previdenciários, ela garante que fará a correção e os
acertos “com o menor sacrifício possível para a população, em especial os mais
necessitados”.
A presidente
Dilma, como se viu, não conseguiu evitar que a vaca tossisse. Agora, terá que
impedir que ela vá pro brejo.
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