Quando o amigo doleiro Alberto Youssef desabafou,
exasperado e súplice, “Tô no limite. Preciso captar”, segundo
diálogos registrados pela Polícia Federal e revelados pela última VEJA, o
deputado André Vargas respondeu, resoluto: “Vou atuar”.
André Vargas, do PT do Paraná, até a semana passada
vice-presidente da Câmara dos Deputados, já se celebrizara pelo gesto de
levantar o braço, como provocação ao presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa, sentado ao seu lado.
Ao gesto agora acrescentava uma divisa, na forma de
uma sentença tão curta quanto prenhe de pesporrência (bela palavra; o colunista
agradece ao deputado a oportunidade de usá-la): “Vou atuar”.
André Vargas é exemplo acabado da mutação genética
do espécime chamado “petista”. Ele nasceu em Assaí, perto de Londrina, no
Paraná, um mês antes do golpe de 1964. Tem 50 anos, portanto, e entrou no PT
aos 26, em 1990.
Gloriosos tempos esses. O PT era a estrela que
apontava para uma sociedade mais justa e costumes renovados na política
brasileira. Quando se tornou poderoso, o PT passou a qualificar de “udenistas”
os adversários que o atacam com a arma da moral e dos bons costumes.
Naquele tempo a UDN ressurreta era o PT. Seu
empenho foi decisivo para a derrubada do presidente Collor, em 1992. Nada mais
atraente para um jovem idealista do que um partido como esse. (Suponhamos que
André Vargas tenha sido um idealista; é o que de melhor podemos fazer por ele).
Sua ascensão foi rápida. Em 1991, já era membro do
diretório municipal de Londrina. Em 1997, deixou para instalar-se em Brasília,
como chefe de gabinete do deputado Nedson Micheleti.
Quando se dá a mutação de um jovem idealista para
um “Vou atuar”? Os fenômenos da evolução são infelizmente infensos a respostas
com o grau desejável de precisão. No caso, Brasília talvez tenha contado.
Com certeza poder e dinheiro contam. Em 1998, Vargas
trabalhou na campanha dos candidatos Paulo Bernardo, do PT, a deputado federal,
e Antônio Carlos Belinati, do PSB, a estadual.
Era uma estranha dobradinha. O parceiro de Paulo
Bernardo, o atual ministro das comunicações, era filho de Antônio Belinati, três
vezes prefeito de Londrina, o qual em tantas se meteu que teve o mandato
cassado, em 2000, e chegou a ser preso.
Na campanha envolveu-se o agora famoso Youssef, e
foi nessa ocasião , segundo o jornal O Globo, que Vargas o conheceu. A campanha
resultou em escândalo; para alimentar a do filho, segundo investigações, papai
Belinati desviou dinheiro da prefeitura.
O dinheiro começava a passar por perto do nosso
suposto jovem idealista. Não por acaso, era uma época em que o poder começava a
acumular poder.
Em 2000 ganhou a prefeitura de São Paulo, com Marta
Suplicy, e a de Londrina, com Nedson Micheleti, o deputado do qual Vargas fora
chefe de gabinete. No ABC paulista, o mais antigo feudo petista, Celso Daniel
foi eleito pela terceira vez.
O caldo de cultura que transformou o idealismo em
“vou atuar” estava formado. Celso Daniel foi morto dois anos depois. Nedson
Micheleti, ao fim de dois mandatos de prefeito, seria condenado por improbidade
administrativa.
André Vargas, enquanto isso, empreendia a
irresistível ascensão que o levou de vereador em Londrina a deputado estadual
e, em 2006, a federal. Distinguiu-se nessa qualidade, pelas posições
ultrapetistas de defesa dos mensaleiros e com do controle da imprensa.
Essa era sua face pública. Nos bastidores atuava.
As entranhas de seu mundo começaram a vir a público no fatídico em que Youssef
lhe forneceu um jatinho para viajar com a família para João Pessoa.
Que quer dizer “vou atuar”? O diálogo em questão
sugere que seja em favor de gestão junto ao Ministério da Saúde para a
conclusão de falcatrua envolvendo um laboratório de propriedade do doleiro.
É razoável supor que essa seja uma de muitas
atuações. E André Vargas não está sozinho. O caso Petrobras, como último e
culminante de uma série, revela quantos outros atuam. O espécime petista, tal
qual conformado pela mutação sofrida, em simbioso com uma base aliada que no
geral nem precisou mudar – já nasceu assim -, fez do Estado brasileiro um mar
nunca dantes visto de atuações.
Pobre Dilma.
Seu governo está bichado.
A corrupção generalizou-se a ponto de ser parte sem
a qual o sistema não sobrevive.
E ainda tem a economia.
E ainda tem a incompetência
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