Uma coisa é a gente não gostar do governo, ser
crítico, achar que é incompetente. Outra, diferente, é ter de sentir vergonha
do que vê, ouve e sabe. Na segunda-feira, profissionais de saúde participaram
de um protesto em frente à Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), onde
alguns médicos estrangeiros, que vieram para o programa aloprado de Dilma Rousseff
e Alexandre Padilha, participavam de uma solenidade. A assessoria do Ministério
da Saúde diz que, durante o ato, o secretário de Gestão Estratégica e
Participativa da pasta, Luiz Odorico Monteiro de Andrade, levou um tapa. Se
aconteceu assim, não pode acontecer mais. É inaceitável. A reação do governo
federal, no entanto, por intermédio do ministro-candidato Alexandre Padilha e
do próprio Andrade é absurda. Não tendo como justificar o regime de contratação
dos cubanos, os petistas tiveram uma ideia. Reproduzo a fala do ministro ao
comentar o episódio:
“Lamento veementemente a postura de alguns
profissionais, porque eu acho que é um grupo isolado, de ter atitudes
truculentas. Incitam o preconceito, a xenofobia. Participaram de um verdadeiro
corredor polonês da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países
para atender a nossa população apenas naqueles municípios onde nenhum
profissional quis ir atender a nossa população”.
Há, nessa fala, uma impressionante soma de tudo o
que não presta. Se há coisa de que os brasileiros não podem ser acusados,
convenham, é de xenofobia. Ao contrário. No geral, há uma cultura de tolerância
com os estrangeiros e, a depender do caso, até de deslumbramento. Quem alimenta
certo lastro de rancor contra um povo em particular — o americano — é o governo
petista. Como esquecer aquela fala gloriosa de Luiz Inácio Apedeuta da Silva,
segundo quem a crise internacional tinha sido criada por “gente loura e de olho
azul”? E a acusação de racismo, de onde vem?
Alguns dos médicos e médicas que chegaram ao
Brasil, especialmente os vindos de Cuba, são negros. No protesto no Ceará, os
manifestantes acusavam o Ministério da Saúde de explorar trabalho escravo.
Andrade, o auxiliar de Padilha, deve ter ficado com o juízo meio perturbado. Afirmou:
“O que a gente presenciou foi um ato de
truculência, violência, xenofobia, racismo e preconceito. Os médicos
brasileiros presentes no ato agrediram verbalmente os médicos cubanos,
chamando-os de escravos, de incompetentes e mandando eles voltarem para suas
senzalas. Quando os médicos saíram, eu fui agredido com murros, empurrões,
tapas, e um ovo acertou a minha camisa.”
Comento
Um tapa ou um monte deles, qualquer coisa é inaceitável! Mas a acusação de “racismo” — porque alguns médicos são negros, e os brasileiros acusam a existência de trabalho escravo — é de uma má-fé que impressiona. Obviamente, os que se manifestam não estão se referindo nem à origem (não é xenofobia) nem à cor da pele dos profissionais. Estão é protestando contra o regime de trabalho acordado entre os governos do Brasil e o de Cuba. Eles estão reagindo ao fato de que o nosso país pagará R$ 10 mil mensais por profissional, mas este verá apenas uma pequena parte desse dinheiro — algo em torno de 20%. A situação é de tal sorte surrealista que as autoridades brasileiras nem mesmo sabem quanto a tirania comunista repassará aos médicos. Isso é lá com ela. Ora, parece evidente que profissionais bem remunerados tendem a trabalhar mais satisfeitos. Até com os cubanos deve ser assim.
Um tapa ou um monte deles, qualquer coisa é inaceitável! Mas a acusação de “racismo” — porque alguns médicos são negros, e os brasileiros acusam a existência de trabalho escravo — é de uma má-fé que impressiona. Obviamente, os que se manifestam não estão se referindo nem à origem (não é xenofobia) nem à cor da pele dos profissionais. Estão é protestando contra o regime de trabalho acordado entre os governos do Brasil e o de Cuba. Eles estão reagindo ao fato de que o nosso país pagará R$ 10 mil mensais por profissional, mas este verá apenas uma pequena parte desse dinheiro — algo em torno de 20%. A situação é de tal sorte surrealista que as autoridades brasileiras nem mesmo sabem quanto a tirania comunista repassará aos médicos. Isso é lá com ela. Ora, parece evidente que profissionais bem remunerados tendem a trabalhar mais satisfeitos. Até com os cubanos deve ser assim.
Cabe a pergunta: só haverá negros entre os 4 mil
cubanos? Segundo o censo de 2002, assim se distribuía a população da ilha:
7.271.926 brancos (65,05%), 1.126.894 negros (10,08%) e 2.778.923 mulatos
(24,86%). Ou por outra: em termos percentuais, há mais negros e mestiços
somados no Brasil do que em Cuba. Quando os médicos brasileiros gritaram
“escravos!” e os convidaram a voltar às suas respectivas senzalas — na hipótese
de que tenha acontecido assim mesmo —, era o regime de trabalho que estava
sendo atacado. Escravo, branco ou negro, “Isauro” ou não, é todo aquele que não
tem liberdade de ir e vir; que não é dono do seu próprio trabalho (porque o
estado dele se apropriou); que é obrigado a servir a um senhor, caso contrário,
virá a punição. E não é rigorosamente essa a situação dos médicos cubanos que
vieram ao Brasil, qualquer que seja a cor de sua pele? De resto, constato: se
os 4 mil médicos forem um espelho da população de Cuba, haverá mais brancos
entre eles do que negros. Caso se verifique o contrário, então será preciso
examinar a hipótese de racismo, sim, mas em Cuba.
Não, senhor ministro! Não, senhor secretário! As
excelências estão apertando o botão do racismo porque sabem que o programa em
curso fere diversas leis do nosso país. Então cumpre evocar essa farsa na
aposta de que os absurdos nele contidos se percam num debate lateral. Escravos,
sim! São escravos porque não são donos do seu trabalho, porque não são donos do
seu corpo, porque não são donos de sua própria consciência. O mais massacrado
dos operários, nos momentos mais terríveis da Revolução Industrial, tinha de
seu — cabe visitar o velho Marx — o trabalho. Essa é, afinal de contas, a
constatação original, primeira, a gênese mesmo, que vai resultar na proposta da
revolução comunista.
Esse operário era, então, segundo a teoria,
obrigado a vender essa força de trabalho por um valor inferior ao que ela
rendia — não é isso? —, e o patrão se apropriava desse excedente. Marx pôs seus
furúnculos no traseiro para pensar e teve uma ideia: chega de transferir esse
excedente para o patrão! Ele tem de ficar com os próprios trabalhadores. E isso
só será possível, definiu, com a socialização dos meios de produção. Não
confunda! Abolir também a propriedade privada das cuecas não é ideia de Marx,
mas de Pablo Capilé, um pensador que veio algum tempo depois…
Cuba é marxista! Vejam lá no que deu. Aprendemos
que o socialismo é a pior distância entre o capitalismo e o escravismo. O
“patrão” dos médicos cubanos não está se apropriando do seu sobretrabalho, mas
de seu trabalho inteiro — e do dono desse trabalho também. Em troca, os médicos
receberão não mais do que uma ração, que ainda é superior àquela que se fornece
aos que ficam em Cuba. Ser escalado para esses convênios, ainda que obrigados a
deixar na ilha suas respectivas famílias, ainda é melhor do que lá permanecer.
Preconceito uma ova!
Xenofobia uma ova!
Os médicos cubanos — os que não forem agentes do
regime, porque os há aos montes , infiltrados no grupo, a exemplo do que se viu
na Venezuela — não podem falar eles próprios porque, se o fizerem, sabem qual é
seu destino. Serão imediatamente mandados de volta a Cuba. Como já alertou o
buliçoso Luís Inácio Adams, será inútil pedir asilo.
Os asquerosos
O subjornalismo da boca do caixa, financiado por
estatais e por gestões petistas, mobilizou a sua tropa nas redes sociais para
tentar popularizar a acusação de racismo e xenofobia, como se os médicos
brasileiros estivessem contra a presença de colegas estrangeiros e, muito
particularmente, de negros. É uma gente asquerosa! Esses agora supostos
defensores de negros cubanos são os mesmos que apontam o dedo contra Joaquim
Barbosa, ligando a cor de sua pele a seu temperamento ou a seu voto no
julgamento do mensalão; são os mesmos que lhe cobram gratidão a Lula por ter
sido “generoso” e lhe ter dado uma chance.
Não é jornalismo, não é política, não é debate de
ideias. É uma variante da formação de quadrilha.
Por Reinaldo Azevedo
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