Por Marcelo Lemos
Estamos em mais um
ano eleitoral. Mais um ano, no qual, muitos de nossos púlpitos são arrendados
para políticos ‘simpatizantes’ dos evangélicos, e candidatos das nossas
agremiações. As Eleições são capazes de fazer ‘milagres’. Por exemplo, ainda
que o pastor do Ministério “B” jamais ceda seu púlpito para um pastor do
Ministério “A”, ele fará graciosamente uma concessão ao político “Y”, ainda que
este tenha recebido um ‘passe’ de ‘pai de santo’ horas antes... E, não pense o
querido leitor, que nos falte bases teológicas que justifiquem tal engajamento!
Por exemplo,
poderá o pastor argumentar que Cristo nos chamou para ser “sal da terra e luz
do mundo”. Essa justificativa teológica para o engajamento político é um
clássico! Mas, será que tais palavras de Cristo podem ser usadas deste modo?
Antes de responder essa questão, preciso abrir um parêntesis.
Eu gosto de
Política. Acredito que enquanto repetimos chavões como “não gosto de política”
ou “o política é igual futebol: não se discute”, simplesmente facilitamos a
vida de oportunistas, inclusive o tipo que pretendemos expor nesse artigo.
Gosto e faço política. Nem mesmo sou contra que cristãos sejam candidatos e
Governantes. Nem mesmo sou contra que líderes cristãos assumam cargos eletivos
– ainda que seja recomendado tirar uma licença ministerial neste caso. Enfim,
que o cristão ter o dever de participar da vida pública de sua nação não está
em discussão neste texto. Dito isto, prossigamos!
Quando Cristo
disse que devemos ser “sal da terra e luz do mundo”, não tinha em mente que
conquistássemos cargos políticos e posições na sociedade. Na verdade, Cristo
tinha em mente que os cristãos vivessem para Deus, de modo santo, mesmo que
para isso fosse necessário aceitar serem excluídos da sociedade, e algumas vezes,
perseguidos por ela. Fugir dessas implicações é pisar o sangue dos cristãos
primitivos! Se não estamos dispostos a entrar com pés e mãos atados nos
Coliseus da modernidade, se não estamos prontos servir de tocha humana nos
jardins dos Cezares de hoje, também não estamos prontos para sentarmo-nos à
mesa do Concílio de Calcedônia!
Quando a Igreja,
saindo vitoriosa das perseguições imperiais, e reuniu-se em Calcedônia, não o
fez com carruagens e pompas. Encontraremos ali homens de Deus, de todo o mundo,
que haviam enfrentado leões em suas covas. Facilmente nos esquecemos de que a
maioria dos bispos ali reunidos havia sido perseguida, presa e torturada; e
muitos deles estavam literalmente mutilados! Mas, aqueles farrapos humanos
deixaram o mais emocionante testemunho que a História já conheceu: as portas do
Inferno não prevalecerão, jamais!
Infelizmente,
vemos que, hoje, quando o cristão chega ao poder, não é como “sal da terra e
luz do mundo”, mas como coisa insípida, sem nenhum sabor! O mais triste de tudo
é que, justamente a Igreja, que deveria ser celeiro de uma mudança radical para
o nosso País, tem, na verdade, se conformado e moldado ao mundo.
Para que possamos
ser “sal e luz” na política, e na sociedade como um todo, é preciso que antes
tenhamos uma teologia que seja “sal e luz” em nossas próprias vidas.
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