- Por Pablo Massolar
"É proibido sofrer!" Esta é a mensagem
que vemos sendo anunciada em quase todos os lugares. Talvez nem sempre dita
assim tão explícita, mas percebemos suas variações quando também se diz:
"pare de sofrer!", "tenha uma vida vitoriosa!", "Você
nasceu para ser cabeça e não cauda!", "decrete e profetize sua
vitória!", "tome posse pela fé!" e tantas outras ordens e
palavras que, na cabeça de muita gente, vira uma espécie de anestésico contra as
dores que os problemas da vida provocam na gente.
A sociedade atual se esconde do sofrimento e o nega
porque ele desmascara nossas fragilidades. A questão é que a ferida continua
aberta, a infecção vai se alastrando cada vez mais, a doença emocional vai se
enraizando, vai matando lentamente, mas seus efeitos são maquiados pela não
sensação de dor. Se esquecem que o próprio sofrimento pode ser uma bênção, pois
ele nos avisa sobre a necessidade de que algo deve ser feito.
Embora haja fundamento bíblico para nos dizermos
mais do que vencedores por meio de Jesus, esta palavra "vencedores"
não segue o modelo e o padrão moderno de entendimento do que seja vencedor
segundo a ganância dos homens. O perfil do vencedor moderno é aquele que até
pode passar por alguma dificuldade, mas consegue tudo o que quer. Sempre vence
as dificuldades virando o jogo com palavras mágicas. Nunca demonstra em público
suas fraquezas. Este é o vencedor das externalidades, da futileza, do terno
Armani, da bolsa Louis Vuitton, do carro de luxo, de ter dinheiro, poder e influência
sobre a vida das pessoas. É o que se faz vencedor pela força bruta, é o
indestrutível. Infelizmente, este tipo de vencedor é anunciado adoecida e
insistentemente em muitos púlpitos. Quem não se enquadra nesse padrão é
rapidamente chamado de "sem fé", amaldiçoado, fraco ou derrotado.
Já, o Vencedor, segundo o Evangelho, é aquele que
também sofre, também passa por algum tipo de privação, pode até vencer de
alguma forma material, mas sabe discernir entre o momento de rir e o de chorar.
Aprende a viver cada um destes momentos reconhecendo que há um Deus que não
somente assiste, mas participa com a gente, ao nosso lado, de cada riso ou
lágrima e usa essas coisas também como ensino e crescimento para cada um de
nós.
Perder ou ganhar, ser fraco ou forte, no
entendimento bíblico, não depende do troféu humano, das honrarias, homenagens,
recompensas e reconhecimentos que se recebe em vida.
Vencer não tem a ver necessariamente com possuir
bens ou ser curado de uma doença terminal. Estas coisas também, mas elas não
tratam da essência. Estão na superfície de uma vida muito mais profunda, muito
além de ter ou não os seus sonhos e pedidos realizados.
Aqueles que vencem ou venceram, nas Escrituras,
perderam o mundo para ganhar a Vida. Alguns foram perseguidos, torturados,
mortos, tiveram seus bens espoliados, famílias separadas. A maioria não foi
nenhum exemplo de sucesso de empreendedorismo, de força de vontade ou
estabilidade emocional. Passaram fome, fugiram, tiveram medo, alguns desistiram
ou abandonaram seus projetos e chamados missionários, antes do tempo. Tiveram
crises existenciais, ficaram deprimidos, se sentiram enfraquecidos, desejaram
morrer mas foram salvos e reencaminhados não por suas próprias forças, mas pela
Graça infinita, teimosa e amorosa de Deus. O verdadeiro vencedor é aquele que
vence não por ele mesmo, mas vencido, vence em Deus.
O vencedor, segundo as Escrituras, sabe que todas
as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, mas nem por isso deixa
de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Vive cada
sentimento de forma verdadeira, sem máscaras e consciente.
Nesta vida ainda vamos perder e achar muitas
coisas, muitas vezes. Alguns sonhos pessoais jamais serão alcançados, outros
virão como que presentes de Deus para nossas mãos. Não se permita ser julgado
pelos outros ou pela própria consciência por causa do que você ganha ou deixa
de ganhar. O importante é, como diria nosso irmão Paulo, o apóstolo: "quer
vivamos ou morramos, somos do Senhor." (Romanos 14.8). Em outras palavras,
desta vez, ditas por Jó "o Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o seu
nome." (Jo 1.21).
O sofrimento em si não nos torna derrotados.
Podemos, sim, aprender e sermos aperfeiçoados por causa dele. O rótulo é sempre
algo imposto de fora pra dentro. Nem sempre expressa uma realidade. Não se auto
impute um desmerecimento ou supervalorização falsos. O verdadeiro vencedor
aprende a dar nomes às suas responsabilidades, projeta sua esperança não nas
coisas que se veem, mas naquelas que são eternas. Assume seus erros, mas também
consegue se alegrar com cada pequenino passo em direção à Vida. Sabe perdoar e
também pedir perdão. O sofrimento dói, mas nos amadurece, nos ensina a
reconhecer o que de fato podemos chamar de vitória.
O Deus que venceu por todos te abençoe rica,
poderosa e sobrenaturalmente!
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