- William Graham Tullian
Tchividjian é o pastor da Igreja Presbiteriana Coral Ridge em Ft. Lauderdale,
Florida. É professor visitante de Teologia no Reformed Theological Seminary e
neto do conhecido pregador e evangelista Billy Graham. É formado em filosofia
pela Universidade de Columbia e obteve seu M.Div peloReformed Theological
Seminary. Tullian é autor de vários livros e contribui como um dos editors
do jornal Leadership Journal. Ele é preletor em diversas conferência
teológicas nos EUA e faz um programa de rádio, com meditações e pregações. É
casado com Kim, com quem tem três filhos Gabe, Nate, e Genna.
Na
igreja evangélica aconteceu uma mudança referente à maneira como pensamos no
evangelho. Esta mudança não é desconectada da vida real. Ela nos afeta na vida
cotidiana.
Em
sua obra “Paul: An Outline of His Theology” (Paulo:
Um Esboço de Sua Teologia), o famoso teólogo holandês Herman Ridderbos
(1909-2007) resume esta mudança, que aconteceu depois de Calvino e Lutero. Foi
uma mudança grande, mas sutil, no foco da salvação, movendo-o da realização
externa de Cristo para a nossa apropriação interna:
Em
Calvino e Lutero toda a ênfase recaía no evento redentor que aconteceu na morte
e ressurreição de Cristo. Posteriormente, sob a influência do pietismo, do
misticismo e do moralismo, a ênfase mudou para a apropriação pessoal da
salvação dada em Cristo e para seu efeito moral e místico na vida do crente. Em
harmonia com isso, na história da interpretação das epístolas de Paulo, o
centro de gravidade mudou, cada vez mais, dos aspectos judiciais para os
aspectos espirituais e éticos da pregação de Paulo. E surgiu uma concepção
totalmente diferente das estruturas que fundamentam a pregação de Paulo.
Donald
Bloesch fez uma observação semelhante quando escreveu: "Entre os
evangélicos, maior atenção é dada não à justificação dos ímpios (que era o
motivo básico da Reforma), e sim à santificação dos justos".
Essa
mudança veio acompanhada de uma nova ênfase na vida interior do indivíduo. A
questão subjetiva "O que eu estou fazendo?" se tornou mais
predominante do que a questão objetiva "O que Jesus fez?" Como
resultado disso, gerações de crentes aprenderam que o cristianismo era
primariamente um estilo de vida; que a essência de nossa fé se centralizava em
"como vivemos"; que o verdadeiro cristianismo era demonstrado na
mudança moral que aconteceu no interior daqueles que tinham um
"relacionamento pessoal com Jesus". Portanto, nossas realizações
constantes por Jesus, e não o que Jesus fez perfeitamente por nós, se tornaram
a ênfase de sermões, livros e conferências. O que eu preciso fazer e quem eu
preciso ser se tornaram o fim principal.
Creiamos
nisso ou não, a mudança de foco, do aspecto "judicial para o
espiritual", do exterior para o interior, desencadeia consequências
práticas.
Quando estamos à beira do desespero, olhando para o abismo de trevas,
experimentando uma noite sombria da alma, voltar-nos para a qualidade interior
de nossa fé não nos trará esperança, nem livramento, nem alívio.
Frequentemente, a nossa pregação (e o nosso aconselhamento) equivale a dar
instruções de natação a um homem que está se afogando: "Patinhe mais
forte, mexa as pernas mais rápido". Supomos que as pessoas têm o poder
interior de fazer as escolhas certas, por isso nós as levamos para dentro de si
mesmas. (Interessantemente, Martinho Lutero definiu o pecado como "a
humanidade voltada para dentro de si mesma"). No entanto, como muitas
pessoas já sabem, toda resposta interior fracassará dentro delas mesmas. Voltar-nos
para o objeto exterior de nossa fé, ou seja, Cristo, e sua obra consumada em
nosso favor é o único lugar onde achamos paz, orientação e ajuda. Em
vez de direcionar-nos para algo dentro de nós, o evangelho sempre nos direciona
a algo, a Alguém, fora de nós, onde achamos a segurança que tanto desejamos em
tempos de dúvida e desespero. A segurança que anelamos quando tudo parece
destroçar-se não virá em descobrirmos o consagrado "herói interior",
mas somente em compreendermos que, não importando como nos sentimos ou o que
estamos sofrendo, já fomos descobertos pelo "Herói exterior".
Como
Sinclair Ferguson escreveu em seu livro The Christian Life (A Vida
Cristã): "A verdadeira fé obtém seu caráter e sua qualidade do seu objeto e
não de si mesma. A fé tira uma pessoa de si mesma e a leva a Cristo. Sua força,
portanto, depende do caráter de Cristo. Até aqueles de nós que têm fé fraca
possuem o mesmo Cristo poderoso que os outros crentes possuem!"
Por
meio de seu Espírito, a contínua obra de Cristo em mim consiste em seu
constante e diário trazer-me de volta à sua obra consumada por mim. A
santificação se satisfaz na justificação, e não o contrário. O evangelho é as
boas novas que anunciam a infalível dedicação de Cristo a nós, apesar de nossa
falta de dedicação a ele. O evangelho não é uma ordem de nos
segurarmos em Jesus. Pelo contrário, o evangelho é uma promessa de que, não
importando quão fraca seja a nossa fé em tempos de depressão espiritual, Deus
está sempre nos segurando.
Martinho
Lutero usava uma expressa para se referir ao perigo que surge de colocarmos
nossa esperança em qualquer coisa que há em nosso interior: monstrum incertitudinis (o
monstro da incerteza). É um perigo que, desde a Queda, sempre aflige os
cristãos, mas aflige especialmente os cristãos de nossa época altamente
subjetivista. É um monstro que só pode ser destruído pelas promessas exteriores
de Deus em Jesus.
Romanos 5.1 diz: "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com
Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Esta é uma
paz genuína, edificada sobre uma mudança real em nossa posição diante de Deus –
da posição de culpados diante de Deus, o juiz, para a posição de justos diante
de Deus, nosso Pai. Esta é a segurança objetiva até do mais fraco dos crentes.
É uma paz que descansa totalmente no fato de que já "fomos reconciliados
com Deus mediante a morte do seu Filho" (v. 10); fomos justificados diante
de Deus, de uma vez por todas, por meio da fé na obra consumada de Cristo. Esta
paz produzirá sentimentos verdadeiros e ação resoluta. No entanto, esta paz com
Deus, que Paulo descreve, repousa seguramente na obra de Cristo por nós, fora
de nós. A verdade é esta: quanto mais eu olho para meu próprio coração em busca
de paz, tanto menos a encontro. Por outro lado, quanto mais eu olho para Cristo
e suas promessas em busca de paz, tanto mais a encontro.
Então,
quando pressionados por todos os lados, olhemos para cima. Na administração de
Deus, a única saída é sempre para cima, e não para dentro.
Traduzido
por: Wellington Ferreira
Editor:
Tiago J. Santos Filho
Copyright©2011 Tullian
Tchividjian
Copyright©2011 Editora Fiel
Traduzido do original em inglês: Where To Look When You're In Trouble – Extraído do Site: The Gospel
Coalition.
O
leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não
altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de
autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a
Editora Fiel.
Lindo, profundo e verdadeiro.
ResponderExcluirÉ nesse Deus que cremos meu amado.
Deus o abençoe.
Te amamos.