Para Paulo Cezar do grupo Logos, a
música cristã não pode abrir mão do conteúdo bíblico.
Por Carlos
Fernandes – "Cristianismo Hoje"
O título desta entrevista é o mesmo
de uma das canções mais conhecidas do grupo Logos. Mas também sintetiza parte
importante da vida do pastor, cantor e compositor Paulo Cezar da Silva. Aos 60
anos de idade e com mais de trinta de carreira – ou, conforme ele mesmo define,
ministério –, Paulo é dos nomes mais conhecidos da música evangélica
brasileira, de cuja evolução participa desde os anos 70. Foi naquela época que,
ainda aluno do seminário Palavra da Vida, em São Paulo, formou um conjunto
musical, já com a presença de Nilma, com quem acabou se casando. A iniciativa
entre amigos deu origem, em 1979, ao grupo Elo, que marcou uma geração de
crentes. Alguns de seus álbuns, como Calmo, sereno e tranquilo e Ouvi
dizer, viraram clássicos, e Paulo Cezar, com sua poesia, uma referência.
A trágica morte do talentoso
instrumentista Jayro Gonçalves, o Jayrinho, acarretou o fim do Elo. Mas Paulo
quis seguir adiante. “Fui buscar consolo e inspiração na Bíblia”, conta. E foi
das Escrituras que surgiu a ideia para batizar o novo grupo. “O
nome foi escolhido por significar a palavra viva e por ter tudo a ver com nosso
ministério, onde a Bíblia tem centralidade absoluta”, diz o artista.
Com o Logos, Paulo Cezar legou ao público cristão 17 álbuns e pérolas como as
canções Mão no arado, Portas abertas e Autor da
minha fé. Compositor da maioria das músicas do grupo, o artista
defende um louvor com conteúdo – coisa que, segundo ele, já não é prioridade.
“A falta de conhecimento bíblico e os interesses comerciais estão na base da superficialidade”,
resume.
Apesar da já longa jornada, o Logos
não está parado no tempo. Com uma formação que vem se renovando ao longo dos
anos, o grupo é a base de um ministério evangelístico cuja sede fica em São
José dos Campos (SP). O Logos faz pelo menos três grandes viagens por ano,
levando não apenas louvor musical, mas evangelismo, edificação espiritual e
encorajamento às igrejas. Em janeiro, o Logos esteve na África, em ação
missionária. Nesta entrevista a CRISTIANISMO HOJE, Paulo Cezar permitiu-se
falar de coração aberto sobre o que pensa acerca da indústria musical, do
próprio ministério e da Igreja. E não escondeu: “Sonho com bons músicos, crentes
de verdade, que rendam seus talentos ao Senhor e testemunhem com suas vidas o
caráter de verdadeiros adoradores.”
CRISTIANISMO HOJE – Você é um dos
nomes mais conhecidos da música cristã brasileira, tendo acompanhado de perto
sua evolução nos últimos 30 anos. O que mudou para melhor e para pior ao longo
desse tempo?
PAULO CEZAR – Para melhor, acho que mudou a qualidade técnica. A
evolução dos músicos, dos estúdios, dos instrumentos e do som é perceptível. As
chances de alguém gravar e fazer um bom trabalho, hoje, são muito maiores do
que antes. O que mudou para pior, com algumas exceções, foi o conteúdo, tanto
do que se produz como do objetivo com que se canta. Atualmente, a chamada
música evangélica, ou “gospel”, está sendo atacada de todos os lados. O
mundanismo tomou o lugar da contextualização. Além disso, vemos a repetição de
muitos jargões, palavras de ordem e mensagens de prosperidade.