Muitos hoje
expressam surpresa quando ouvem o nome de Asahel Nettleton, o último grande
evangelista que expôs as Doutrinas da Graça. Embora Nettleton (1783-1844) tenha
visto trinta mil pessoas convertidas durante um ministério ativo de dez anos no
início do século XIX, seu legado sofre de trágica negligência, talvez até de
menosprezo, nas mãos dos historiadores eclesiásticos contemporâneos.
Por outro lado,
Charles G. Finney (1792-1875) tem sido objeto de extensiva abordagem
biográfica. Considerado o pai do avivalismo moderno, Charles Finney representa
o marco divisor na mudança do calvinismo para o arminianismo como a teologia
predominante no evangelismo. Conservadores gostam muito de Charles Finney por
causa de seu zelo evangelístico, e liberais se referem com orgulho ao
envolvimento de Finney na reforma social. Mark A. Noll considera Charles Finney
“a figura crucial no evangelicalismo dos norte-americanos brancos, depois de
Jonathan Edwards”, tendo impacto mais duradouro do que Ralph Waldo Emerson,
Daniel Webster e Horace Mann, na vida da nação emergente.
O legado de
Charles Finney moldou, em muitos aspectos, a teologia e a metodologia do
evangelismo, em especial o evangelismo dos batistas do Sul. A publicação das
obras mais importantes de Finney, Lectures on Revivals of
Religion (Palestras em Avivamentos da Religião) e Lectures on
Systematic Theology (Palestras em Teologia Sistemática), causaram um
impacto no evangelismo que se estende até aos nossos dias. A ênfase dos
batistas do Sul nas cruzadas simultâneas, na preparação das cruzadas e no
sistema de apelo público e a utilização de reuniões de avivamento como
estratégia podem ser atribuídas à considerável influência de Charles Finney
sobre o evangelicalismo de seus dias.
Este artigo afirma
o ponto de vista de que a crença de uma denominação, uma igreja ou uma pessoa a
respeito da salvação está diretamente relacionada ao evangelismo que elas
praticam. A soteriologia molda a metodologia de evangelismo. O pressuposto é
que a sã doutrina da salvação deve produzir uma prática correta de evangelismo.
O avivalismo de
Asahel Nettleton — centralizado em Deus
Seguindo a linha
teológica de Jonathan Edwards, que enfatizava a responsabilidade humana na
perspectiva calvinista sobre o mundo, Asahel Nettleton representava o aprimorado
calvinismo da Nova Inglaterra de seus dias. Enquanto se apegava firmemente a
cada um dos artigos do Sínodo de Dort (também conhecidos como os Cinco Pontos
do Calvinismo), conforme o entenderam os teólogos que o antecederam na Nova
Inglaterra (Jonathan Edwards, Joseph Bellamy e Timothy Dwight), Asahel
Nettleton acreditava, antes e acima de tudo, que seu sistema de doutrina era
fiel à verdadeira revelação bíblica.
As crenças de
Asahel Nettleton podem ser resumidas nas seguintes afirmações. O homem, sendo
totalmente depravado em sua natureza e escolha, não pode salvar a si mesmo.
Pela graça de Deus, alguns foram escolhidos para a vida eterna. Para os eleitos
por Deus, o Senhor Jesus realizou uma expiação penal e vicária em favor dos
pecados deles, na cruz. O eleito, por quem Jesus morreu, será atraído pela
triunfante graça de Deus ao arrependimento e à fé salvadora em Cristo. Eles
serão preservados por Deus para a salvação eterna.
Os seres humanos
têm de ser regenerados por Deus e precisam ter sua natureza humana
transformada, antes que se arrependam e confiem em Cristo para a salvação. Na
teologia de Nettleton, a capacidade humana de reagir em cada etapa da salvação
provém de um ato soberano de Deus. A menos que Deus o impulsione, o homem
permanecerá desesperadamente perdido.
A metodologia de
Nettleton correspondia perfeitamente à sua teologia. Ele utilizava a pregação
como meio de trazer os pecadores à convicção de seus pecados. Nettleton regava
todos os seus esforços evangelísticos com ardente e humilde oração a Deus, o
único que podia regenerar uma pessoa perdida. Aos despertados, que respondiam à
chamada para se reunirem fora dos cultos normais, Nettleton oferecia reuniões
de inquirição, que eram essencialmente sessões de aconselhamento evangelístico
em grupo. Nestas reuniões, as pessoas podiam receber ajuda pessoal sem a
pressão pública de oferecerem uma resposta positiva.
Poucos homens
chegaram ao nível de perspicácia que Nettleton demonstrou no evangelismo
pessoal. Ele era um habilidoso cirurgião da alma. Instava com aqueles que se
sentiam despertados a colocarem o assunto da salvação de sua alma diante de
Deus, em particular. Muitos vieram à fé salvadora em Cristo como resultado do
ministério de Nettleton nos “lugares ermos”, em igrejas de todos os tipos e
tamanhos. Poucos dos convertidos de Nettleton abandonaram sua confissão,
retornando ao mundo.
O avivalismo de
Charles Finney — centralizado no homem
Nos primeiros dias
de sua mocidade, Charles G. Finney decidiu reagir contra o que acreditava ser os
resultados do evangelismo deficiente do calvinismo exposto por homens como
Asahel Nettleton. Acreditando ser ele mesmo um corretivo para a excessiva
ênfase na soberania divina, Finney enfatizava a responsabilidade dos homens
como agentes livres e possuidores de moralidade.
Finney havia sido
treinado como advogado e, infelizmente, não possuía educação teológica formal;
por isso, ao ler as Escrituras, ele ficou persuadido de uma salvação em termos
de uma filosofia de legalismo e moralidade. Tal mentalidade exigia que os
responsáveis por obedecerem à lei tinham de ser livres para obedecer. Enquanto
Nettleton enfatizava a liberdade de Deus, Finney decidiu enfatizar a liberdade
do homem.
Finney acreditava
que os seres humanos eram depravados em sua vontade e não em sua constituição;
a eleição para a salvação resultou do conhecimento antecipado da resposta dos
homens ao convite do evangelho; a expiação realizada por Jesus não pagou a
dívida do pecado de ninguém, como um substituto penal; pelo contrário, a expiação
apenas permitiu que Deus perdoasse pecadores, sem violar sua própria natureza e
lei.
Michael Horton
resumiu com exatidão as crenças de Finney: “Deus não é soberano; o homem não é
pecador por natureza; a expiação não é o verdadeiro pagamento do pecado; a
justificação, por imputação, é um insulto à razão e à moralidade. O novo
nascimento é simplesmente o resultado de técnicas bem-sucedidas. E o avivamento
é o resultado natural de campanhas inteligentes”.
Visto que os seres
humanos são agentes morais livres, Finney acreditava que eles podiam rejeitar a
graça de Deus. Mesmo depois de arrepender-se e professar a fé em Cristo, a
salvação final de uma pessoa permanecia incerta, dependente de sua obediência
até à morte”.
A teologia de
Finney o levou a perceber que somente um inimigo, a vontade obstinada, impedia
a salvação de todas as pessoas. Os métodos que Finney empregava eram avaliados
com base em sua eficácia de quebrar a vontade obstinada dos pecadores. Este
pragmatismo dominou o ministério de Finney. Servindo-se de um amálgama de
métodos que já estavam em uso, ele revolucionou o evangelismo e fez surgir o
avivalismo moderno. Finney popularizou uma forma mais dramática de pregar,
utilizou a oração pública como uma ferramenta para se pressionar os pecadores,
permitiu que mulheres orassem em reuniões mistas, denunciou oponentes, mudou a
tradição aceita nas reuniões de inquirição, organizou as reuniões de oração de
grupos pequenos e equipes de visitação às casas, fez surgir as campanhas
evangelísticas e preparou o caminho para o que mais tarde se tornaria o sistema
de apelos públicos. Estas novas medidas causaram grande controvérsia, mas
também são reportadas como o meio para trazer aproximadamente 500.000 pessoas
ao despertamento.
Aplicações ao
evangelismo contemporâneo
Estas descobertas
são aplicáveis ao evangelismo moderno em dois níveis. Primeiro, que princípios
podemos aprender desse estudo? Segundo, que homem pode oferecer melhor exemplo
ao futuro do evangelismo, Nettleton ou Finney?
No que se refere
aos métodos, os dois podem nos oferecer um excelente ponto de partida quanto às
aplicações. Se a pregação for marcada por paixão, fidelidade às Escrituras,
aplicação pessoal pertinente, apresentação clara e poder espiritual, o
evangelismo será aprimorado. Se ministros do evangelho e membros de igreja
assumirem o empenho de orar como o fizeram Nettleton, Finney e seus
cooperadores em avivamentos, o evangelismo será revolucionado. Eles não somente
praticaram a oração pessoal, mas também organizaram a oração das igrejas em
preparação para avivamentos. Se os interessados forem corretamente aconselhados
e não forem publicamente pressionados a tomarem decisões prematuras (e,
conseqüentemente, espúrias), os resultados do evangelismo serão preservados em
um grau mais elevado. Se os ministros do evangelho e membros de igreja
praticassem evangelismo pessoal teologicamente correto, as igrejas seriam
transformadas pela infusão de uma nova vida espiritual.
Se considerarmos
esses dois homens do passado como exemplo para o futuro do evangelismo, qual
deles se tornaria o exemplo mais desejável? Duas razões me levam a escolher
Nettleton: a) o legado de Finney não pode resistir a uma avaliação rigorosa; b)
quanto mais consideramos o legado de Nettleton, tanto mais claramente enxergamos
um quadro de equilíbrio doutrinário.
O legado de
Charles Finney tem sido questionado há muito tempo. Alvin L. Reid, professor de
evangelismo do Seminário Batista do Sul, fez a seguinte observação:
Finney recebeu o
crédito por haver produzido o ímpeto que causou a mudança da obra de Deus para
a obra de homens, no avivamento e no despertamento espiritual.... O convite
público, as reuniões prolongadas (hoje chamadas “cultos de avivamento” ou
apenas “avivamentos”) e a preparação para tais reuniões podem, em grande
medida, ter sua origem em Charles Finney. Ele tem sido elogiado e condenado por
esta mudança. Ao avaliarmos Finney, temos de lembrar que ele estava reagindo ao
calvinismo frio, inerte e extremo de seus dias.
Muitos dos
milhares que foram tocados pelo ministério de Charles Finney retornaram ao
mundo, depois que desapareceu a influência local do evangelista carismático. B.
B. Warfield advertiu que “grande proporção daqueles que foram introduzidos nas
igrejas, pela excitação do avivamento, não eram verdadeiramente convertidos,
conforme demonstra claramente a história subseqüente de suas vidas”.
A fim de que
ninguém rejeite Warfield como um calvinista de Princeton e inimigo de Finney,
os testemunhos dos amigos e colaboradores de Finney, James Boyle e Asa Mahan,
oferecem evidências adicionais de que o trabalho de Finney precisa ser visto
com bastante reserva e suspeita. James E. Johnson admitiu que esses testemunhos
dão crédito “à acusação de que muitas pessoas introduzidas nas igrejas pela
excitação das reuniões de avivamento nunca experimentaram realmente uma mudança
de coração”. Boyle escreve a Finney, em 1834:
Consideremos os
campos onde eu, você e outros trabalhamos como ministros de avivamento, e qual
é o estado moral de tais campos hoje? Qual era o estado deles alguns meses
depois que os deixamos? Visitei diversas vezes alguns desses campos e gemi, em
espírito, ao ver o estado infeliz, carnal, gélido e contencioso em que as
igrejas caíram — e caíram logo depois que partimos de entre elas.
Em sua
autobiografia, Mahan escreveu que muitas pessoas supostamente convertidas nos
avivamentos, os pastores que organizavam as reuniões e até os evangelistas que
dirigiam as mesmas subseqüentemente sofreram tanto moral como espiritualmente.
Ele disse:
Eu estava
pessoalmente familiarizado com todos eles. Não posso recordar um homem sequer,
exceto o irmão Finney e o pai Nash, que poucos anos depois de nossa partida não
tenha perdido sua unção, tornando-se igualmente desqualificado para o ofício de
evangelista e de pastor.
Entre os evangélicos, Michael S. Horton tem liderado, com vigor, ataques ao legado de Charles G. Finney. Horton retrata Finney como o pai espiritual do movimento de crescimento de igrejas, do pentecostalismo e do avivalismo político. Ele acusa Finney (utilizando as palavras do próprio Finney) de negar estas doutrinas cardeais: o pecado original, a substituição penal como o motivo da expiação e a natureza divina do novo nascimento.
Entre os evangélicos, Michael S. Horton tem liderado, com vigor, ataques ao legado de Charles G. Finney. Horton retrata Finney como o pai espiritual do movimento de crescimento de igrejas, do pentecostalismo e do avivalismo político. Ele acusa Finney (utilizando as palavras do próprio Finney) de negar estas doutrinas cardeais: o pecado original, a substituição penal como o motivo da expiação e a natureza divina do novo nascimento.
Visto que Finney
repudiou muitos dos dogmas da fé cristã histórica, Horton o chamou “não somente
de inimigo do protestantismo evangélico, mas também do cristianismo histórico”.
Horton admitiu que Finney estava certo em um ponto: “O evangelho afirmado pelos
teólogos de Westminster, que Finney atacou diretamente e, de fato, o evangelho
afirmado pela maioria dos evangélicos é ‘outro evangelho’, em distinção ao
evangelho proclamado por Finney”. Horton faz uma pergunta embaraçadora aos
evangélicos que, inconscientemente, em nome do sucesso no evangelismo, têm
colocado Finney em um pedestal de herói: “Ao lado de qual desses evangelhos
você se colocará?”
Monte Wilson
vincula corretamente Finney às mudanças no evangelismo e percebe que a
estimativa incorreta de Finney a respeito da natureza humana é a raiz de sua
crença no fato de que “avivamentos podem ser planejados, promovidos, propagados
pelo homem”. A tendência moderna de confiar em técnicas de preparação para
avivamentos pode ser atribuída a uma adoção desta falsa premissa de Finney.
Quando o evangelismo é avaliado somente com base nos resultados, a
responsabilidade desta avaliação tem de ser atribuída a Finney. Quando
ministros do evangelho que não produzem os números apropriados de membros são vergonhosamente
demitidos de seu púlpito, o observador prudente vê, por trás da tragédia, uma
das máximas de Finney — “um ministro sábio será bem-sucedido”. Finney
acreditava que, se todos os ministros do evangelho seguissem seu exemplo, o
avivamento varreria a terra, introduzindo o milênio. Somente uma década depois
da publicação de seu livro sobre avivamento — Lectures on Revivals of
Religion(Palestras em Avivamentos da Religião), Finney queixou-se de que os
avivamentos haviam diminuído, tanto em quantidade como em qualidade. Wilson
comentou com exatidão: “Avaliados pelos padrões do próprio Finney, seus ensinos
a respeito da maneira de produzir convertidos e avivamentos, bem como as
pressuposições que fundamentavam tais ensinos se comprovaram errados”. Somente
a eternidade revelará quantas das pessoas que começavam a experimentar
verdadeira convicção de pecado nos avivamentos de Finney foram impelidos a
tomar uma decisão espúria de salvação, arriscando assim a sua alma eterna.
Finney se tornou
um grande catalisador na mudança da teologia que fundamenta o evangelismo.
Visto que o arminianismo suplantou o calvinismo, o homem substituiu a Deus como
centro da teologia de evangelismo. Robert H. Lescelius afirmou corretamente
que, “desde aquela época, o arminianismo tem predominado no evangelicalismo
americano”.
A teologia e o
ministério de Finney foram construídos sobre a falsa premissa de que o
calvinismo prejudica o evangelismo. Dois anos antes de Charles Finney ser
batizado, sessenta e quatro pessoas haviam se convertido na mesma igreja.
Finney chegou à fé em Cristo em meio a um avivamento regional, durante uma
época em que o calvinismo dominava a atmosfera teológica.
A premissa
permanece tão falsa hoje quanto o era nos dias de Charles Finney. Um
contemporâneo de Finney na Inglaterra, o pregador batista Charles Haddon
Spurgeon, edificou uma grande igreja e estava comprometido com a soteriologia
reformada. O fenomenal e popular treinamento de evangelismo chamado Evangelismo
Explosivo foi criado por um pastor presbiteriano, D. James Kennedy,
cuja igreja continua a crescer fundamentada em uma teologia reformada. O autor
e pregador John MacArthur Jr. pastoreia uma igreja próspera e mantém pontos de
vista reformados. Ninguém pode defender com sucesso a premissa de que assumir
uma posição arminiana na soteriologia significa tornar-se mais evangelístico do
que uma igreja que mantém uma teologia reformada.
O legado de
Charles Finney tem de ser considerado tão perigoso por causa da natureza
antropológica de sua teologia e dos métodos resultantes dessa teologia. Em seu
esforço de combater o que ele via como uma forma extrema de calvinismo, Finney
alterou desordenadamente a balança, ou seja, mudou o agir de Deus para o agir
do homem na salvação. O evangelismo de Finney carecia do primeiro ponto do
evangelho — uma transformação divina dos seres humanos, de pecadores a santos.
O avivalismo de Finney deixou como resultado igrejas que ficaram em piores
condições porque se dividiram quanto às “novas medidas” ou porque demitiram ministros
piedosos que não tinham as propensões evangelísticas de Finney. Todos os
métodos de Finney devem ser reavaliados sob um ponto de vista crítico no que
diz respeito ao seu alicerce doutrinário. Em benefício da saúde futura do
evangelismo, aquilo que é proveitoso tem de ser separado do que é prejudicial,
no que diz respeito ao ministério de Charles Finney.Por outro lado, Asahel
Nettleton de- monstrou o potencial saudável do evangelismo fundamenta do na
teologia sã. O ministério de Nettleton não prejudicou as igrejas; em vez disso,
proporcionou-lhes edificação. Pastores que trabalharam ao lado de Nettleton
sentiam que estavam sendo abençoados por um co-pastor. Nettleton entendia que a
igreja existia antes de chegar o avivamento e que continuaria ministrando ao
povo, depois que o evangelista se dirigisse a outro lugar. Ele acreditava que
era muito importante manter a saúde da igreja.
Comparado com o
elevado índice de abandono dos convertidos de Finney, Nettleton obteve uma
marca notável na quantidade de pessoas que se mantiveram firmes, como resultado
de suas reuniões. Pastores geralmente testemunhavam que, depois de mais de
vinte e cinco anos, quase todos os que se haviam declarado convertidos
permaneciam fiéis seguidores de Cristo.
Embora os números
de Nettleton não alcancem os números de Finney, temos de perguntar quantos
supostamente ganhos por Finney retornaram ao mundo. Comparado com Finney,
Nettleton trabalhou em um campo geograficamente menor. Os lugares em que ele
ministrou eram menos populosos. Alguém poderia indagar o que aconteceria se
Nettleton tivesse ministrado nos centros populacionais visitados por Finney.
Asahel Nettleton
entendia que “a teologia determina a metodologia”. Ele trabalhou
conscientemente com pessoas, de um modo que honrou a ação divina que produziria
conversões autênticas. O testemunho de Bennet Tyler descreveu o ministério de
Nettleton como uma chuva generosa que nutria o solo ressecado e produzia fruto
espiritual permanente. James Ehrhard afirmou que “muito surpreendente aos leitores
modernos é a descoberta de que a tremenda eficácia de Nettleton aconteceu sem a
instrumentalidade de qualquer dos métodos que os evangélicos modernos pensam
ser essenciais no evangelismo”. Asahel Nettleton provou a metodologia pelo
padrão das Escrituras, porque sabia que qualquer outro procedimento causaria
ruína no final, não importando quão bem-sucedida parecesse tal metodologia.
O legado de Asahel
Nettleton oferece um fundamento melhor para o futuro do evangelismo. Ele não
estava certo porque era um calvinista; estava certo porque avaliou o certo e o
errado pela revelação bíblica, em vez de fazê-lo utilizando o raciocínio
humano. Nettleton acreditava que os homens são totalmente depravados em sua
natureza, porque a Bíblia o afirma. Acreditava também que Deus tinha de agir
inicialmente na salvação, porque Jesus declarou isso com clareza (Jo 6.44;
6.65). Nettleton cria que a expiação foi uma substituição penal, porque ele a
via retratada deste modo nas Escrituras. Nettleton acreditava que as pessoas podiam
ser reconciliadas com Deus tão-somente pela fé em Cristo e pelo arrependimento
para com Deus, porque a Bíblia ensinava isso. Ele acreditava que os verdadeiros
crentes seriam conhecidos, em última instância, pelo viver santo, porque este
era um princípio bíblico.
Os batistas do Sul
têm jurado sua lealdade à revelação bíblica. Eles deveriam reavaliar seu
comprometimento com o evangelismo pragmático de Finney, comparando-o com as
Escrituras. Descobririam que as opiniões dele a respeito da natureza humana têm
de ser repudiadas. Finney estava errado no que se refere à expiação como um
pagamento em favor dos pecados de ninguém, em particular. Ele acreditava que a
agência humana cumpria um grande papel na salvação, um papel maior do que as
Escrituras lhe permitem. Os erros de Charles Finney referentes às Escrituras
produziram erros no viver diário, erros que até hoje são uma praga entre os
batistas do Sul, especialmente a baixíssima taxa de retenção dos novos
convertidos.
O excelente livro
de J. I. Packer, A Evangelização e a Soberania de Deus, representa
uma posição mais bíblica. Começando com o pressuposto de que Deus é soberano em
todas as coisas e, particularmente, na salvação, Packer descreve a tensão
bíblica entre a soberania de Deus e a vontade do homem como uma antinomia que
tem de ser aceita. Packer adverte aqueles que enfatizam a responsabilidade
humana em detrimento da soberania de Deus, afirmando que tal abordagem leva ao
evangelismo “pragmático e calculado” com uma filosofia aparentada
com a “lavagem cerebral”. Ele admite que tal evangelismo seria
apropriado, “se o produzir convertidos”, e não a fiel proclamação da verdade,
fosse a responsabilidade do crente. Packer também faz uma advertência àqueles
que negligenciam a responsabilidade humana, a fim de exaltar a soberania de
Deus. A tentação de tais pessoas é negligenciar a responsabilidade
evangelística de todos os crentes, com base na suposição de que Deus salvará os
eleitos. Packer censura essa atitude, chamando-a de apatia evangelística
inescusável.
Citando o exemplo
de Charles Spurgeon, que disse nunca haver tentado reconciliar amigos, J. I.
Packer oferece uma perspectiva sadia e equilibrada que reconhece a dependência
mútua das verdades aparentemente contraditórias. Ele aconselhou com sabedoria:
“Na Bíblia, a soberania divina e a responsabilidade humana não são inimigos....
São amigos e trabalham juntos”. Isto levou Packer à seguinte
conclusão: “O melhor método de evangelismo.... é aquele que torna possível a
mais ampla e completa explanação das boas-novas de Cristo e de sua cruz, bem
como a mais exata e perscrutadora aplicação destas boas-novas”.
Visto que os
batistas do Sul professam a crença na autoridade das Escrituras, eles acreditam
na depravação humana e, portanto, têm de se posicionar contra Finney,
juntamente com aqueles que afirmam que os homens são pecadores e necessitam de
salvação, e não de uma reforma moral auto-induzida. Os batistas do Sul crêem
que a salvação procede do coração de um Deus santo, mas gracioso, que
providenciou uma expiação vicária na morte de seu Filho, Jesus Cristo. Eles
crêem que a salvação pode ser obtida por meio do arrependimento e da fé em
Cristo, como resposta à graciosa chamada de Deus, por intermédio do poder de
convencimento do Espírito Santo.
Essas crenças devem
compelir os batistas do Sul a repudiarem sua associação teológica e
metodológica com Charles Finney, impulsionando-os a se aproximarem do modelo
fornecido por Asahel Nettleton, que incorporou a teologia e a prática sobre a
qual a Convenção foi estabelecida. Finney acreditava que seus dias necessitavam
de uma mudança rumo ao arminianismo, para que houvesse equilíbrio. A influência
de Finney causou um mudança extrema na direção da responsabilidade humana. Os
batistas do Sul precisam contra-balancear a excessiva mudança de Charles Finney
em direção ao homem, atingindo novamente o equilíbrio bíblico em sua teologia e
prática de evangelismo.
Em dias recentes,
regozijei-me em ouvir o Dr. Timothy George afirmando ser excelente o fato de
que os batistas do Sul estão abrindo novamente o diálogo a respeito destes
assuntos cruciais. Conforme disse o Dr. George, é positivo que estejamos
conversando sobre a doutrina da salvação nestes dias, em vez de estarmos
falando sobre a ordenação de homossexuais ao ministério. Isso testemunha a
certeza da autoridade bíblica em nossa família de fé. Portanto, andemos juntos,
com a Bíblia e o coração abertos, tendo uma conduta controlada por Cristo,
restabelecendo o equilíbrio correto entre a soberania de Deus e a
responsabilidade humana, na soteriologia.
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir
esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que
informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de
dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
Fonte: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/439/Como_a_Doutrina_Afeta_o_Evangelismo
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