- Por Eliane Cantanhêde
Milhões de pessoas
foram às ruas gritando "Fora Dilma" e "Fora PT". É só
impressão, ou ficou faltando alguém no foco central da irritação popular e na
defesa da presidente e do partido? Onde o ex-presidente Lula se encaixa nisso
tudo?
Dilma Rousseff,
economista, técnica em energia e militante histórica do PDT brizolista, nunca
tinha sido eleita para coisa nenhuma, nem vereadora de interior, até virar
presidente da República. Só se candidatou a tanto e foi vitoriosa por causa
de... Lula. Sem ele, ela jamais teria chegado nem perto dos Palácios do
Planalto e da Alvorada.
E o PT? Chegou no
fundo do poço por sua conta e risco? Afinal das contas, tanto o mensalão quanto
o escândalo da Petrobrás começaram já no início do primeiro mandato de Lula.
Se Dilma tem culpa
pela bagunça na economia, Lula tem responsabilidade por tê-la colocado na
Presidência e pela herança de mensalões e petrolões. No mínimo, as
responsabilidades têm de ser divididas, porque nada disso teria acontecido e
perto de 2 milhões de pessoas não teriam saído do aconchego do seu lar para
despejar irritação nas ruas se não fosse por Lula.
Mas ele, que
deixou a Presidência com o recorde de 80% de popularidade e é o maior líder
popular vivo do País, sabe como ninguém tanto se beneficiar das grandes ondas a
favor quanto se preservar nas horas de adversidade, como agora. Lula não entra
em bola dividida, só vai na boa.
Ninguém viu nem
ouviu o grande líder do PT nem o patrono da presidente Dilma nem nos atos
pró-governo na sexta-feira, dia 13, nem nas maiores manifestações de protesto
desde as Diretas-Já, no domingo, dia 15. E todos continuaram sem ver e sem
ouvir um pio de Lula.
Se o escândalo
bilionário da Petrobrás não tivesse sido estourado e se Dilma tivesse sido
minimamente competente na política e na economia ao longo do primeiro mandato,
Lula não se contentaria hoje apenas em saborear os jantares no Alvorada.
Estaria agora ao lado dela - talvez até à frente... - nas fotos, nas
comemorações, nas manifestações populares.
Como ocorreu
exatamente o contrário, a economia esfarelou, a política desandou, Lula sumiu e
largou a pupila e sucessora à sua própria sorte, sustentada por um Miguel
Rossetto extemporaneamente agindo como líder estudantil, um onipresente José
Eduardo Cardozo requentando promessas vãs e um Aloizio Mercadante que apanha
mais do próprio PT do que das oposições.
Sempre que pode,
Dilma "vaza" para a mídia que está "irritada" com isso e
com aquilo. Pois agora, sempre que se encontra com ela, Lula "vaza"
que discordou, que criticou, até que gritou. Soa como uma tentativa de se
descolar da desgraça, tal como ele fez no mensalão e faz agora no petrolão. A
culpa é sempre de alguém, dos outros, de Dilma...
Não se pode nunca
esquecer, porém, que Dilma é Lula, o PT é Lula. Ao empurrar sua ministra de
Minas e Energia para a Casa Civil e catapultá-la à condição de presidente da
República, Lula assumiu um casamento indissolúvel com Dilma.
Se Lula acha que a
fragilidade de Dilma pode fortalecê-lo em 2018, pode estar redondamente
enganado, principalmente porque a Lava Jato já estrangulou a bancada do PP e
agora se fecha sobre o PT, com os milhões de reais, de dólares e de euros do
tesoureiro João Vaccari Neto e do operador Renato Duque.
Não é só Dilma que
deve estar perdendo o sono. Lula também. Tanto ou até mais do que ela.
Quem diria? Depois de o
PT e seus "blogueiros independentes" azucrinarem todo mundo durante
anos pelas redes sociais e e-mails, documento do Planalto obtido pelo Estado mostra
que o feitiço virou contra o feiticeiro. É o governo do PT quem agora reclama
da guerra da internet...
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