Por
Augusto Nunes - Direto
ao Ponto
É preciso lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Não se pode
esquecer, por exemplo, o caso de polícia em que Lula foi envolvido pela
primeiríssima amiga Rosemary Noronha. A Polícia Federal revelou em 23 de
novembro do ano passado que a chefe do escritório da Presidência da República
em São Paulo era também dirigente da uma quadrilha infiltrada em agências
reguladoras que comercializava pareceres técnicos. Passados mais de dois meses,
o ex-presidente a quem Rose se referia como “meu namorado” não deu um único pio
sobre o escândalo.
Faz 69 dias que Lula foge de jornalistas. Nesse período, discursou para
catadores de lixo, posou para a posteridade ao lado de Sofia Loren, fez
palestras sobre assuntos que ignora, assistiu ao jogo entre Santos e São
Bernardo enfurnado num camarote, garantiu a uma entrevistadora da TV da
Federação Paulista de Futebol que quem pratica esporte não usa droga, deu
conselhos a Fernando Haddad, nomeou-se co-presidente, encontrou tempo até para
mostrar que, embora não tenha lido um só livro nem saiba escrever, tem muito a
ensinar a intelectuais nativos ou cucarachas. Só não falou da chanchada
pornopolítica em que se meteu.
Confiante na crônica amnésia nacional, deve achar que o filme de quinta
categoria vai terminar antes do fim ─ e com a vitória dos vilões. Engano. Até
que recupere a voz (e crie coragem), será perseguido por perguntas sem
resposta. Não são poucas. E faltam muitas, adverte o avanço das apurações da
Polícia Federal e a coleta dos primeiros depoimentos pelo Ministério Público.
As patifarias já descobertas sugerem que a história está em seu começo. Os
inocentes não têm o que temer. Quem tem culpa no cartório não vai escapar pela
trilha do silêncio.
O Brasil não pode desviar-se da trilha desmatada pelo julgamento
do mensalão. As penas impostas aos quadrilheiros pelo Supremo Tribunal Federal
apontaram o caminho mais curto para a extinção de uma espécie repulsiva: o
brasileiro-condenado-ainda-no-berço-à-perpétua-impunidade. Todos são iguais
perante a lei, ensinaram os ministros. O ex-presidente não é mais igual que os
outros. Não está acima de qualquer suspeita. Não é inimputável. Nem mesmo ao fundador
do Brasil Maravilha é permitido transformar urna em tribunal e decidir que um
chefe de seita absolvido pelo rebanho não tem contas a prestar à Justiça.
Apesar de tudo, apesar de tantos, o Brasil não é uma Venezuela. O Código
Penal vale também para Lula.
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