É
desconhecimento, memória fraca ou conveniência classificar de golpe o que na
realidade foi apenas a interrupção de um processo revolucionário de tomada do
poder pelos comunistas, iniciado antes de 1960 e intensificado no governo
Jango.
O
historiador Jacob Gorender, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
(PCBR), em seu livro Combate nas Trevas, intitula o capítulo 8 de
“Prérevolução e golpe preventivo”. A seguir transcrevo opiniões irrefutáveis
de militantes que participaram da luta armada, de jornalistas, de professores
de História e de Sociologia:
“Nos primeiros meses de 1964 esboçou-se uma
situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo,
pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o
imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse.”
(GORENDER,
Jacob. Combate nas Trevas. 5ª edição, 1998).
Sob o
título “Cuba Apoiou Guerrilha já no Governo Jânio”, Mário
Magalhães, da sucursal do Rio, do jornal Folha de São Paulo, edição de
08/04/ 2001, publicou o seguinte:
“Desde o início (1959), os cubanos estavam
convictos de que a luta armada era o caminho da Revolução”, diz o historiador Jacob
Gorender.
Parte
da entrevista de Daniel Aarão Reis Filho, publicada em O Globo de 23/09/2001:
“As ações armadas da esquerda brasileira não
devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho
da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos
o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido
durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado
em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada
era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar
uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas
organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência
democrática.”
Observação
do autor: em 15 de junho de 70, Daniel Aarão Reis Filho foi um dos quarenta
militantes banidos para a Argélia, em troca do embaixador da Alemanha.
Atualmente é professor titular de História Contemporânea da UFF.
“Livro revelou que PCB planejava dar golpe em
1964”
“... Malina confirma no livro que o “partidão”,
com o apoio de Luís Carlos Prestes, chegou a planejar um golpe em 1964, antes
da tomada do poder pelos militares. “O último secretário” dá conta ainda de
que havia uma organização militar clandestina dentro do PCB desde a Revolução
de 30...”
(MALINA,
Salomão - secretário-geral do PCB - O Globo - 01.09.2002, pág. 12 B).
Em
29/03/2004, o jornal O Globo publicou a reportagem abaixo, da qual transcrevo
trechos:
“Falava-se em cortar cabeças; essas palavras não
eram metáforas”
Aydano
André Motta, Chico Otávio e Cláudia Lamego
“Um dogma precioso aos adversários da ditadura
militar iniciada a 31 de março de 1964 está em xeque. Novos estudos
realizados por especialistas no período - alguns deles integrantes dos grupos
de oposição ao regime autoritário - propõem uma mudança explosiva, que semeia
fúria nos defensores de outras correntes: chamar de resistência
democrática a luta da esquerda armada na fase mais dura do regime está
errado, historicamente falando. Falava-se em cortar cabeças, essas palavras
não eram metáforas.
Se as esquerdas tomassem o poder haveria,
provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de
grandes proporções no Brasil - atesta Daniel Aarão Reis, professor de
História da UFF e ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário 8 de Outubro
(MR-8). - Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento
deles: fuzilamento e cabeças cortadas.”
“Ninguém estava pensando em reempossar João
Goulart”
“Denise Rollemberg, mestre em História Social da
UFF, destaca que o objetivo da esquerda era a ditadura do proletariado e que
a democracia era considerada um conceito burguês.”
“Não se resistiu pela democracia, pela retomada
do status quo pré-golpe. Ninguém estava pensando em reconstituir o sistema
partidário ou reempossar João Goulart no cargo de presidente” diz Denise.
“A professora explica - e Aarão Reis concorda -
que a expressão sequer surgiu no fim dos anos 60, início das batalhas entre
militares e terroristas.”
“A descoberta da democracia pela esquerda se dá
apenas no exílio, com a leitura de filósofos e pensadores como o italiano
Antonio Gramsci...”.
“Outro participante da luta, o professor de
História da UFRJ, Renato Lemos, acha que é responsabilidade ética, social,
políticae histórica da esquerda assumir suas idéias e ações durante a
ditadura.”
“Cada vez mais se procura despolitizar a opção de
luta armada numa tentativa de autocrítica por não termos sido democratas.
Nossa atitude foi tão válida quanto qualquer outra. Havia outros caminhos,
sim. Poderíamos tentar lutar dentro do MDB, mas achávamos que a democracia já
tinha dado o que tinha de dar”, confirma Lemos.
Aarão
Reis discorda:
“As esquerdas radicais se lançaram na luta contra
a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o
socialismo no País, por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na
China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra
muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que
vem dos clássicos sobre a guerra.”
Professor
de Sociologia da Unicamp, Marcelo Ridente argumenta que o termo “resistência”
só pode ser usado se for descolado do adjetivo “democrática.”
“Houve grupos que planejaram a ação armada ainda
antes do golpe de 1964, caso do pessoal ligado ao Francisco Julião,
das Ligas Camponesas. Depois de 1964, buscava-se não só derrubar a
ditadura, mas também caminhar decisivamente rumo ao socialismo.”
Professor
do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, autor do aclamado Como
eles agiam, sobre o funcionamento do regime, Carlos Fico chama de ficção a
idéia de resistência democrática. Ele também ataca a crença de que a luta
armada foi uma escolha motivada pela imposição do AI-5.
“A opção de pegar em armas é anterior ao ato
institucional. Alguns grupos de esquerda defenderam a radicalização antes de
1968 - garante ele.”
Em
31/03/2004, o jornal O Estado de S. Paulo publicou a entrevista abaixo da
qual transcrevo um trecho:
“Derrotados escreveram a História”
Estado
- O que levou os militares ao movimento de 1964?
Ruy
Mesquita - "Acho fundamental, para que se possa fazer uma análise
objetiva e fria, sobre a chamada revolução de 64 - que na realidade não foi
uma revolução, foi uma contra-revolução; não foi um golpe, foi um contragolpe
-, situá-la no tempo político internacional. No começo dos anos 60, com a
vitória de Fidel Castro e com a sua entrada no jogo do bloco soviético, o
foco principal da guerra fria passou a ser a América Central, o centro
geográfico das Américas. A tal ponto que ali nasceu a primeira e talvez única
ameaça concreta e iminente de uma guerra nuclear, quando em 62 houve a crise
dos mísseis nucleares que os russos instalaram clandestinamente no território
cubano. O risco era real. Diz-se que a história é sempre escrita pelos
vencedores. A história do golpe de 64 foi escrita pelos derrotados.”
Tais
manifestações e pronunciamentos falam por si. Não há qualquer sustentação na
história ou nos documentos da esquerda que comprove ter havido um “golpe
da direita” ou um “golpe militar”. Tais
conceitos fazem parte da mesma orquestração em que se inclui a falácia de que
a esquerda revolucionária pós 1964 lutava contra a “ditadura”.
Não
tenho idéia de quem urdiu essas mentiras, mas com muita convicção afirmo que
tudo faz parte de um processo para desmoralizar o movimento de 31 de março de
1964 e de mitificar os “heróis” das esquerdas.
Houve,
realmente, uma Contra-Revolução: um duro golpe contra as pretensões de
comunização do Brasil.
A Verdade Sufocada - A História que a esquerda
não quer que o Brasil conheça - Carlos Alberto Brilhante Ustra
Fonte com
mais informações: http://www.averdadesufocada.com/index.php/contra-revoluo-de-1964-notcias-106
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