Lohaynne Gregório - Folha da Manhã
Fotos: Genilson Pessanha
Fotos: Genilson Pessanha
O verão acabou e as férias escolares também. Agora o município de Campos, antes vazio por conta dos veranistas que buscam as praias, volta ao seu cotidiano normal. Na primeira semana depois do Carnaval, o trânsito na planície já estava caótico, com lentidão em pontos já conhecidos como as avenidas 28 de Março e a José Alves de Azevedo, duas importantes vias de ligação na área central. Nos horários de início ou fim de turno escolar, o caos se repete na avenida Alberto Torres e a rua Voluntários da Pátria, locais de acesso a unidades de ensino. Casas lotéricas, bancos e supermercados também registraram grandes filas. Para especialistas, os transtornos podem piorar com a expectativa de aumento populacional nos próximos anos caso não haja um planejamento urbano. Grandes empreendimentos na região Norte Fluminense, como o Superporto do Açu e o Complexo Logístico Farol- Barra do Furado, prometem atrair mais trabalhadores para o município.
O técnico em processamento de dados Edson Souza, de 31 anos, retornou a Campos na semana seguinte do Carnaval, após passar o feriado em uma praia capixaba. “A cidade estava um caos depois do Carnaval. Em todos os lugares havia filas, sem contar no trânsito que voltou ao seu estado normal, com lentidão e imprudências”, disse. Para o morador, o município está crescendo sem os investimentos necessários. “Campos parece que não comporta mais tanta gente, é só ver o Centro em horário comercial”, ressaltou.
Segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Campos era de 463.731 pessoas naquele ano. O arquiteto e urbanista Renato Siqueira explicou que a expectativa é de que esse número dobre em três ou quatro anos. “A expectativa é de que a população dobraria fundamentalmente em função do Porto do Açu e do Complexo Logístico Farol-Barra do Furado”, disse. De acordo com ele, a falta de planejamento para esse crescimento já traz problemas à população, como o vivenciado pelos moradores no período pós-Carnaval. “No próprio centro comercial, vários indicadores de consumo tiveram problemas pelo retorno massivo da população”, concluiu o arquiteto, explicando ainda que indicadores de consumo referem-se a lotéricas, bancos e estabelecimentos comerciais.
Longo período sem discutir as mudanças
“Campos está praticamente há 30 anos sem planejamento urbano”, afirmou Renato Siqueira. Segundo o arquiteto, o último Plano de Planejamento Urbano de Campos (PDUC) foi elaborado nos anos de 1979/80. “De lá para cá, tivemos os planos diretores de 90 e 98, que eram praticamente cópias do PDUC, até o Plano Diretor Participativo de 2007”, explicou. Esse último, segundo Renato Siqueira, trouxe mudanças em termos de planejamento, como o Plano de Ordenamento Urbano (POT), com diretrizes para a ocupação em áreas de expansão urbana, mas não está sendo implementado no município. “O Plano Diretor é avançado e possui dois instrumentos importantes de direção urbana. Um deles é o Plano Integrado de Transporte e Mobilidade (PTIM) e o Plano Local de Acessibilidade Universal, mas ele não é seguido. É ignorado”, disse.
Diante da falta de planejamento para o crescimento urbano, o arquiteto e urbanista não tem boas expectativas para o futuro do município. “Enxergo um panorama muito ruim em termos de qualidade de vida”, disse. Até o fechamento dessa reportagem, a secretaria de Comunicação da Prefeitura de Campos não respondeu aos questionamentos sobre o planejamento urbano no município.
Transporte coletivo é só um dos problemas
O ex-presidente da antiga Empresa Municipal de Transporte (Emut) e da Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), Murillo Dieguez, também afirmou que Campos não possui planejamento urbano. De acordo com ele, um dos aspectos é a falta de mobilidade urbana. “Uma grande questão é o transporte coletivo ineficiente, que só estimula o transporte individual. O município não tem um sistema de transporte interligado. Associado a isso, não temos bolsões de estacionamentos e vias marginais, não temos um sistema de circulação que funcione. O resultado disso é que, hoje, às 16h, você começa a não conseguir andar no trânsito”, explicou.
Além do aumento da população estimada para os próximos anos, Campos ainda recebe o chamado turismo de negócio – os empreendimentos na região Norte Fluminense fazem do município um polo para hospedagem, atraindo trabalhadores e empresários que permanecem na cidade apenas por uma temporada. No dia 10 de março deste ano, a Prefeitura divulgou, em seu site que, “devido ao crescente número de executivos, engenheiros, técnicos, profissionais liberais e representantes comerciais que chegam frequentemente na cidade, a lotação dos hotéis e pousadas da cidade estão sempre com lotação esgotada”. Ainda segundo a matéria, grupos hoteleiros acompanham a demanda do setor, que cresce de forma acelerada, e estão construindo seis hotéis de médio e grande porte na cidade. Esses empreendimentos teriam classificação de três e quatro estrelas para funcionar no padrão internacional de qualidade. Nos próximos dois anos, o setor deve oferecer mais seis mil novas vagas, de acordo com a Prefeitura.
Fonte: http://www.fmanha.com.br/geral/1396195430
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