"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

quarta-feira, 30 de abril de 2014

O deslizamento de Dilma

 – Por Elio Gaspari
A erosão de Dilma deve-se mais ao modo petista de aparelhar o Estado e ao ‘Volta Lula’ do que a ela mesma
Charge inserida por Bo@noia
A campanha pela reeleição da doutora Dilma está numa enrascada. Carrega uma cruz do passado (as malfeitorias petistas, do mensalão às traficâncias da Petrobras) e puseram-lhe nas costas outra, do futuro (o “Volta Lula”). Está presa à necessidade de justificar o que não fez e a uma ideia segundo a qual talvez não seja a melhor escolha, nem mesmo para os petistas e seus aliados.
Lula diz que não é candidato, mas comporta-se como tal e faz isso da pior maneira possível, como corretivo aos erros cometidos por seu poste. Na essência do “Volta Lula” há um implícito “Sai Dilma”. À primeira vista, esse movimento oferece um Salvador da Pátria, mas está embutido na proposta também um Salvador do PT.
O desgaste de Dilma decorre da exposição de um desgaste do aparelhamento imposto ao Estado. Em menos de um mês abalaram-se duas candidaturas nas quais a nação petista fazia enorme fé. Um só doleiro, veterano de duas delações premiadas, arrastou a campanha de Alexandre Padilha em São Paulo e a de Gleisi Hoffmann no Paraná. Sabendo-se que o partido está sem pai nem mãe no Rio de Janeiro, à malversação de recursos públicos somou-se outra, de votos.
O comissariado afastou-se do deputado André Vargas, mas essa conversão repentina pode ter sido escassa e tardia. Afinal, o PT ainda não conseguiu se desvencilhar do mensalão, hoje transformado na bancada da Papuda. Ninguém pode prever no final de abril o resultado de uma eleição que ocorrerá em outubro, mas alguns indicadores de hoje são claros:
1) A candidatura de Dilma Rousseff está sendo corroída e mesmo uma pessoa que não gosta do seu governo deve admitir que boa parte desse desgaste vem mais da repulsa ao aparelhamento do que a ela.
2) Se a proposição anterior é verdadeira, o “Volta Lula” pode ser tanto um remédio como um veneno.
3) Aécio Neves e Eduardo Campos ficaram na confortável situação de jogar parados. Pouco dizem a respeito do que pretendem fazer, beneficiados pela exposição dos malfeitos do governo. Oh, que saudades da faxina prometida por Dilma.
Não se sabe quem será o Lula que se quer de volta. Sendo uma “metamorfose ambulante”, talvez nem ele saiba. Prova disso está na entrevista que deu em Portugal. Nela disse a coisa, seu oposto e concluiu com uma dúvida.
A coisa, referindo-se à bancada da Papuda: “Não se trata de gente da minha confiança.” Deixe-se pra lá que José Dirceu, “capitão” da sua equipe, não lhe tivesse a confiança.
O seu contrário: o julgamento do Supremo Tribunal Federal foi “80% político e 20% jurídico”.
A dúvida: “Essa história vai ser recontada.”
Ganha uma viagem a Cuba quem souber qual das três afirmações deve ser levada a sério.
Enquanto esteve na oposição, a nação petista cultivou uma sociologia de botequim. Supunha que o tucanato espalhara conexões e interesses capazes de garantir-lhe o controle do Estado. Se os adversários podiam fazer isso, os companheiros também podiam. Daí surgiram Marcos Valério, Alberto Youssef, as empresas “campeãs nacionais”, empreiteiras amigas e a turma das petrotraficâncias.
Lula foi eleito em 2002 porque a invulnerabilidade sociológica do tucanato era uma fantasia. Mesmo que ele saia do banco de reservas e vá para a quadra, as urnas poderão mostrar que a dele também é.


terça-feira, 29 de abril de 2014

Vai ou não ter Copa ???

- Por Rodrigo Augusto Prando*
Os últimos meses têm, em nosso país, sido interessantes do ponto de vista social e político. A dinâmica da sociedade, uma sociedade em rede, traz em seu bojo as contradições que são inerentes à cena contemporânea: há excesso de individualismo e, ao mesmo tempo, enorme participação de jovens que deixaram as redes sociais para protestar ocupando as ruas de nossas cidades.
Imagem inserida por Bo@noia
 Desde junho de 2013, as relações entre manifestantes e governos (municipais, estaduais e federal) são tensas, sobretudo no que tange à atuação das polícias que, também, estão aprendendo a lidar com essa nova forma de protestar. As jornadas juninas demonstraram que a política, com sua democracia representativa, não era mais capaz de verbalizar os anseios de parte da população. Os protestos se iniciaram sob a égide do Movimento Passe Livre (MPL), um movimento que não se constitui numa organização com liderança verticalizada, e que se contrapunha ao aumento da tarifa nos transportes públicos na cidade de São Paulo. Houve aumento na quantidade e mudança na qualidade dos protestos. Os governantes vergaram frente à força avassaladora das ruas. As tarifas foram suspensas e os jovens (naquele momento muitos já não eram tão jovens) poderiam se retirar, pois o objetivo havia sido conquistado – até mesmo porque o MPL deixou o palco, satisfeito, por ora, com o resultado.
No entanto, o que se viu foi um adensamento não só das angústias, como, também, das ações dos manifestantes. Não havia uma pauta unificada, uma única organização controlando e dirigindo a liderança, uma massa que tomava as ruas. A Polícia Militar foi acusada de agir com truculência, foi, depois, atacada por ter sido omissa. Há cenas de policiais sendo agredidos, de militares atacando os manifestantes, de policiais sendo aplaudidos pelos manifestantes, enfim, uma ampla gama de situações que, durante semanas, deixou nossa vida cotidiana suspensa. Sociologicamente, sem dúvida, foram semanas de tentativa de compreensão do fenômeno em voga. Intelectuais das mais distintas posições interpretativas buscavam dar suas explicações sobre o que ocorria e acerca das consequências futuras. Busquei, como muitos, interpretar os fatos, obviamente, tendo humildade para explicar que a situação era nova e nossas ferramentas de análise nem sempre davam conta de construir compreensões totalizadoras, ou seja, de serem capazes de relacionar os eventos singulares ao quadro mais geral de nossa sociedade. Num de meus artigos, no qual realizei um balanço do ano de 2013 e fazia um esforço de apontar tendências para 2014, asseverei o seguinte:
“[...] é provável que 2014 seja, ainda, palco contestatório, numa conjugação singular de crítica social e amor ao futebol. Dizem os mais pessimistas que o país terá, no período da competição, vastos problemas, estes já velhos conhecidos de nossa população: mobilidade urbana, infraestrutura aeroportuária, displicência das empresas aéreas, alta de preços, entre outros. Em verdade, não se pode ser pessimista. Basta ser realista! É pouco provável que, num passe de mágica, essas falhas sejam corrigidas nos próximos meses” (artigo enviado aos jornais em janeiro de 2014).
Neste mesmo mês de janeiro, outro fenômeno tomou corpo: os "rolezinhos". Jovens, muitos que acompanhavam a vertente do funk ostentação”, passaram a promover  “rolês” em shoppings da capital paulista, numa ação que gerou enorme repercussão na mídia. Os jovens diziam que queriam zoar, dar uns beijos, tirar fotos e postar nas redes sociais. Novamente, aqui, o meio de divulgação foram as redes sociais. Centenas, milhares, de jovens deixaram consumidores, lojistas e administradores dos shoppings, assustados. Foram poucos os registros de saques ou roubos, contudo, a quantidade e a velocidade dos "rolezinhos" foram causadores de transtornos. Tivemos a contradição entre a liberdade de ir e vir, de expressão, e de direito à propriedade privada. A Justiça concedeu liminares aos shoppings proibindo a realização de "rolezinhos". Os administradores dos shoppings e seguranças foram acusados de preconceito ao impedir que certos tipos de jovens pudessem ou não acessar aqueles locais.
Em síntese, mesmo sendo um fenômeno de curta duração – tão logo as aulas se iniciaram os "rolezinhos" se findaram ele deixou uma forte marca em nossa memória recente. Milhares de jovens que, de repente, corriam nos corredores dos shoppings, cantando, gritando, foram vistos como causadores de enormes transtornos. Em outra perspectiva estão aqueles que formularam o slogan Não vai ter Copa. Se os jovens dos "rolezinhos" não traziam um conteúdo político em suas ações, os que protestam contra a realização da Copa do Mundo tem essa dimensão bem presente em seu discurso, embora, sabidamente, um discurso não organizado e disperso. Os protestos que são realizados nas ruas acabam tendo um acompanhamento, nos últimos realizados, de forte presença policial, inclusive da chamada “tropa do braço”, com policiais versados em artes marciais, que imobilizam os manifestantes e evitam o uso de bombas e balas de borracha. Sabedores dessa nova tática da PM, muitos passaram a ventilar novas formas de manifestação: apropriaram-se dos recentes "rolezinhos". Ao invés de confrontarem a polícia, imaginam o impacto de, por exemplo, fazer "rolezinhos" nos aeroportos e em outros espaços em que circularão não apenas brasileiros mas muitos estrangeiros que virão para o Mundial de Futebol. Há um enorme tabuleiro. O jogo começou, e as peças são, real e virtualmente, movidas. De um lado, os governos e as forças de segurança; do outro, jovens e algumas organizações que se insurgem contra a Copa e que pleiteiam educação, hospitais, transporte público e políticos “padrão Fifa”.
Sobre a pergunta que intitula este escrito  –“Vai ou não ter Copa?” –, a resposta é, para mim, óbvia. Sim, teremos Copa do Mundo. Como ela será? Aí, é outra história. Penso que não será tranquila, que a insatisfação de inúmeros atores sociais volte a tomar as ruas e a promover os "rolezinhos" objetivando conturbar o evento esportivo. Não bastasse o futebol, teremos eleições presidenciais, para governadores e para o Legislativo. O futuro de nossa presidente está, quer se queira ou não, atrelado ao sucesso ou ao fracasso do Brasil no campeonato. Brasil campeão, Dilma reeleita. Brasil derrotado, enormes dificuldades para a reeleição. Se a euforia da vitória pode ajudar o candidato da situação, as agruras da derrota podem trazer à tona muito mais que a derrota dentro do campo. Pode significar a derrota simbólica dos detentores do poder político.
*Rodrigo Augusto Prando, mestre e doutor em sociologia pela Unesp, é professor e pesquisador do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Reunião tensa no Ministério da Defesa. Representantes dos militares da Forças Armadas já falam em paralisação.

- Se prender meu esposo o Ministério vai ter que mandar prender ele e eu...”
"Nos vamos fazer como todo mundo faz, prender um é fácil, prender dois é fácil. Eu quero ver prender TRÊS MIL, QUATRO MIL..."
Dia 24 de abril ocorreu nova reunião no Ministério da Defesa, com a presença de Ari Matos Cardoso, Secretário Geral do ministério. No evento compareceram varios políticos e representantes de associações. O deputado Izalci, do PSDB, que se apresentou como “defensor das Forças Armadas”, logo de início disse que defende a criação de uma espécie de comissão no Ministério da Defesa voltada exclusivamente para a questão de remuneração dos militares. Segundo o deputado, todas as categorias que fazem paralisação conseguem ter suas reivindicações atendidas, mas os militares, que não podem se sindicalizar nem fazer greves, permanecem com enorme defasagem salarial.
Recentemente os policiais da Bahia realizaram uma greve, considerada ilegal, e os militares federais foram deslocados para reforçar a segurança do estado. Os policiais conseguiram seu reajuste.
Ari Matos Cardoso disse que o Ministério da defesa já construiu uma política de remuneração dos militares, que teve a aprovação dos três comandos, que deve ser apresentada ainda esse mês. Segundo o mesmo, o documento será um instrumento orientador para a valorização da carreira militar.
O senador Paulo Paim, quando assumiu a palavra logo mencionou a questão do inacreditável valor do salário família dos militares, que é de 16 centavos, valor ridículo, que só ganhou evidência nacional após um já conhecido militar carioca, sargento Vinícius Feliciano (Veja Aqui) - em ação ousada - escalar a estátua do Marechal Deodoro usando uma camisa com a frase “Não é só por R$ 0,16”
As falas da maioria das pessoas foram dentro da tão conhecida, e já angustiante, ética parlamentar. Que acaba, pelo excesso de gentilezas e atenuantes linguísticos, fazendo parecer que os temas tratados não são tão urgentes e importantes quanto na verdade são. Fugindo dessa regra surge a Senhora Kelma, presidente da Unifax. Kelma Costa não poupou palavras de indignação. Ela parece saber realmente o que são as privações passadas pela família militar, e cremos que deixou o Ministério da Defesa bastante preocupado depois de ouvir suas palavras.
Kelma começou sua fala perguntando: “ _Ha quanto tempo que se sabe disso? Quando você sabe de um problema e não busca uma solução demonstra-se com isso algumas coisas. Ou é falta de vontade de resolver. Porque se for falar que é questão de dinheiro eu vou ter que desmentir, porque no Brasil, aonde se tem dinheiro pra tudo é complicado acreditar e passar isso pra tropa hoje. Isso não pode ser mais justificativa. A questão dos 28.86% é uma questão agora de execução...
Ela continuou. Ao seu lado Ari Matos mantinha o semblante fechado. "O que eu preciso saber é o seguinte: se tudo isso que se disse aqui já se sabe desde 2005, então, sair daqui ou nos deixar novamente no vácuo, sem uma resposta, uma data, um preto no branco, seria simplesmente a defesa se colocar numa posição omissa. Ou de que não quer resolver ou de que joga a bola pra Presidente. E os militares vão saber o seguinte, nós então estamos sem representação, nós não temos mais a quem recorrer a não ser o comandante supremo..."
O senhor lembra que eu estive aqui em manifestação no ano passado... estivemos em reunião com o senhor... no dia seguinte voltamos em manifestação... buscando de alguma forma chamar a atenção do Ministério da Defesa pra essa situação que eu to apresentando pro senhor um ano depois, e nada foi feito. Eu disse, então nós vamos pro Congresso, do Congresso partimos pro Senado, e as coisas cresceram e a tendencia agora é crescer muito mais. Porque eu vou dizer uma coisa pro senhor doutor Ari, eu estou com quatro ônibus de militares da reserva preparadinhos, porque se não for tomada uma decisão nós vamos vir pra cá.
imagem adicionada por Bo@noia
Nós vamos fazer como todo mundo faz, prender um é fácil, prender dois é fácil. Eu quero ver prender TRÊS MIL, QUATRO MIL, aí vai complicar a situação. Eu vou dizer pro senhor que o meu marido é um desses que está cansado, sobrecarregado, endividado, e esperando, esperando... Vai ter que acontecer igual acontece aí, uma hora vamos parar, vamos parar com tudo e quem tiver que prender prenda e quem tiver que arcar com as consequências que arque... Se prender meu esposo o Ministério vai ter que mandar prender ele e eu. Porque o senhor vai levar e eu vou ficar sentada do lado de fora esperando ele sair, ou dentro da cela com ele. Vai ser um trabalho dobrado.
A senhora Ivone Luzardo descreveu uma mensagem que recebeu de um militar: “Eu quero entrar no Congresso armado... se eu tiver uma chance não sobra um.” "A que ponto deixaram chegar os militares. Se isso não é revanchismo é o que?" Disse Luzardo
Pelo conteúdo dos discursos conclui-se facilmente que a situação está no limite. As falas dos representantes nos levam a crer que em um momento como esse qualquer coisa pode acontecer.
Essa semana mesmo o grupo TERNUMA (Terrorismo Nunca Mais) criou uma grande lista, exemplarmente democrática, em repúdio ao governo atual. Em poucos dias o documento já conta com mais de 2 mil signatários. Imaginem um grande grupo de militares da reserva, generais que ocuparam altos cargos, coronéis, capitães, sargentos... Caminhando silenciosamente e simplesmente se posicionando em frente ao Palácio do Planalto. Imaginem que eles permaneçam ali por vários dias seguidos... Que cena! Que repercussão incrível causaria!
Qual será o tamanho do prejuízo político se a sociedade perceber que as Forças Armadas estão insatisfeitas com o governo, a ponto de atitudes extremas, como mencionou a senhora Kelma Costa?
Fonte: http://sociedademilitar.com.br/index.php/forcas-armadas/1129-representantes-dos-militares-da-forcas-armadas-ja-falam-em-paralisacao.html



quarta-feira, 16 de abril de 2014

Jornalista dinamarquês se decepciona com Fortaleza e desiste de cobrir Copa

- Tendo a missão de cobrir a Copa do Mundo, o jornalista desistiu e voltou para a Dinamarca ao ter contato com os problemas sociais do Brasil, especialmente de Fortaleza
 Até aonde você iria por um sonho? O jornalista dinamarquês Mikkel Jensen desejava cobrir a Copa do Mundo no Brasil, o “país do futebol”. Preparou-se bem: estudou português, pesquisou sobre o país e veio para cá em setembro de 2013.
Em meio a uma onda de críticas e análises de fora sobre os problemas sociais do Brasil, Mikkel quis registrar a realidade daqui e divulgar depois. A missão era, além de mostrar o lado belo, conhecer o ruim do país que sediará a Copa do Mundo. Tendo em vista isso, entrevistou várias crianças que moram em comunidades ou nas ruas.
Em março de 2014, ele veio para Fortaleza, a cidade-sede mais violenta, com base em estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao conhecer a realidade local, o jornalista se decepcionou. “Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo – e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar”.
>LEIA MAIS:
Descobriu a corrupção, a remoção de pessoas, o fechamento de projetos sociais nas comunidades. E ainda fez acusações sérias. “Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo à noite em área com muitos turistas”.
Desistiu das belas praias e do sol o ano inteiro. Voltou para a Dinamarca na segunda-feira (14).O medo foi notícia em seu paístendo grande repercussão. Acredita que somente com educação e respeito é que as coisas vão mudar. “Assim, talvez, em 20 anos [os ricos] não precisem colocar vidro à prova de balas nas janelas”. E para Fortaleza, ou para o Brasil, talvez não volte mais. Quem sabe?
Confira na íntegra o depoimento:
A Copa – uma grande ilusão preparada para os gringos
Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi português e estava preparado para voltar.
Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa, eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.
Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo – e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.
Em março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua, e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo à noite em área com muitos turistas. Por quê? Para deixar a cidade limpa para os gringos e a imprensa internacional? Por causa de mim?
Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$ 10.000 e um Master Card no bolso. Inacreditável.
Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.
Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da história em reais – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças.
Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.
Alguém quer dois ingressos para França x Equador no dia 25 de junho?
Mikkel Jensen – Jornalista independente da Dinamarca
O Tribuna do Ceará entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para comentar acerca da possível “matança” comentada pelo jornalista dinamarquês, mas até a publicação desta matéria não foi enviada a resposta.
(*) A pedido de Mikkel, este artigo foi publicado com o jornalista já na Dinamarca.

 Fonte: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/fortaleza/jornalista-dinamarques-se-decepciona-com-fortaleza-e-desiste-de-cobrir-copa/

terça-feira, 15 de abril de 2014

"Vou atuar", por Roberto Pompeu de Toledo – Veja 16/04/2014

Quando o amigo doleiro Alberto Youssef desabafou, exasperado e súplice, “Tô no limite. Preciso captar”, segundo diálogos registrados pela Polícia Federal e revelados pela última VEJA, o deputado André Vargas respondeu, resoluto: “Vou atuar”.

 André Vargas, do PT do Paraná, até a semana passada vice-presidente da Câmara dos Deputados, já se celebrizara pelo gesto de levantar o braço, como provocação ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, sentado ao seu lado.

Ao gesto agora acrescentava uma divisa, na forma de uma sentença tão curta quanto prenhe de pesporrência (bela palavra; o colunista agradece ao deputado a oportunidade de usá-la): “Vou atuar”.

André Vargas é exemplo acabado da mutação genética do espécime chamado “petista”. Ele nasceu em Assaí, perto de Londrina, no Paraná, um mês antes do golpe de 1964. Tem 50 anos, portanto, e entrou no PT aos 26, em 1990.

Gloriosos tempos esses. O PT era a estrela que apontava para uma sociedade mais justa e costumes renovados na política brasileira. Quando se tornou poderoso, o PT passou a qualificar de “udenistas” os adversários que o atacam com a arma da moral e dos bons costumes.

Naquele tempo a UDN ressurreta era o PT. Seu empenho foi decisivo para a derrubada do presidente Collor, em 1992. Nada mais atraente para um jovem idealista do que um partido como esse. (Suponhamos que André Vargas tenha sido um idealista; é o que de melhor podemos fazer por ele).

Sua ascensão foi rápida. Em 1991, já era membro do diretório municipal de Londrina. Em 1997, deixou para instalar-se em Brasília, como chefe de gabinete do deputado Nedson Micheleti.

Quando se dá a mutação de um jovem idealista para um “Vou atuar”? Os fenômenos da evolução são infelizmente infensos a respostas com o grau desejável de precisão. No caso, Brasília talvez tenha contado.

Com certeza poder e dinheiro contam. Em 1998, Vargas trabalhou na campanha dos candidatos Paulo Bernardo, do PT, a deputado federal, e Antônio Carlos Belinati, do PSB, a estadual.

Era uma estranha dobradinha. O parceiro de Paulo Bernardo, o atual ministro das comunicações, era filho de Antônio Belinati, três vezes prefeito de Londrina, o qual em tantas se meteu que teve o mandato cassado, em 2000, e chegou a ser preso.

Na campanha envolveu-se o agora famoso Youssef, e foi nessa ocasião , segundo o jornal O Globo, que Vargas o conheceu. A campanha resultou em escândalo; para alimentar a do filho, segundo investigações, papai Belinati desviou dinheiro da prefeitura.

O dinheiro começava a passar por perto do nosso suposto jovem idealista. Não por acaso, era uma época em que o poder começava a acumular poder.

Em 2000 ganhou a prefeitura de São Paulo, com Marta Suplicy, e a de Londrina, com Nedson Micheleti, o deputado do qual Vargas fora chefe de gabinete. No ABC paulista, o mais antigo feudo petista, Celso Daniel foi eleito pela terceira vez.

O caldo de cultura que transformou o idealismo em “vou atuar” estava formado. Celso Daniel foi morto dois anos depois. Nedson Micheleti, ao fim de dois mandatos de prefeito, seria condenado por improbidade administrativa.

André Vargas, enquanto isso, empreendia a irresistível ascensão que o levou de vereador em Londrina a deputado estadual e, em 2006, a federal. Distinguiu-se nessa qualidade, pelas posições ultrapetistas de defesa dos mensaleiros e com do controle da imprensa.

Essa era sua face pública. Nos bastidores atuava. As entranhas de seu mundo começaram a vir a público no fatídico em que Youssef lhe forneceu um jatinho para viajar com a família para João Pessoa.

Que quer dizer “vou atuar”? O diálogo em questão sugere que seja em favor de gestão junto ao Ministério da Saúde para a conclusão de falcatrua envolvendo um laboratório de propriedade do doleiro.

É razoável supor que essa seja uma de muitas atuações. E André Vargas não está sozinho. O caso Petrobras, como último e culminante de uma série, revela quantos outros atuam. O espécime petista, tal qual conformado pela mutação sofrida, em simbioso com uma base aliada que no geral nem precisou mudar – já nasceu assim -, fez do Estado brasileiro um mar nunca dantes visto de atuações.

Pobre Dilma.

Seu governo está bichado.

A corrupção generalizou-se a ponto de ser parte sem a qual o sistema não sobrevive.

E ainda tem a economia.

E ainda tem a incompetência

Seu governo faliu.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

A "Melhor" Copa do Mundo... - Não se assustem

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domingo, 6 de abril de 2014

Aposentado constrói mini-carro - "Só usei a cabeça", diz aposentado criador de minicarro elétrico, no RS

- Empresário trouxe ao país experiência europeia com veículo que não polui. 'Perseguido' por fiscais de trânsito, ele legalizou carro e busca investidores.

Estêvão Pires
Do G1 RS

Com veículo emplacado, aposentado ostenta o JED pelas ruas e Lajeado, no RS (Foto: Marcus Büneker/Arquivo Pessoal)Dresch ostenta criação pelas ruas de Lajeado, no RS (Foto: Marcus Büneker/Arquivo Pessoal)
Uma visita à Itália em 2009 levou um aposentado do Rio Grande do Sul a iniciar neste ano uma batalha para emplacar no país um modelo artesanal de minicarro elétrico. Criador do JAD, João Alfredo Dresch, 68 anos, peregrina desde janeiro em busca de empresas interessadas no projeto. Ele garante que o modelo tem 5 CV de potência, roda a até 70 km/h, não polui, é silencioso, tem menos de 2 metros de largura e dispensa o uso de combustível. Além disso, o gasto por quilômetro rodado é estimando em cerca de R$ 0,10
Sem formação de ensino superior, mas com um vasto currículo obtido em uma fábrica de fermento na Região do Vale do Taquari, o inventor diz ser movido pela curiosidade.
"Só usei a cabeça. Acho que isso falta neste ramo. Fui à Itália e vi esses carros pela rua. Voltei decidido a fazer algo parecido", detalha.
No passado, ele se arriscou em uma invenção sobre a qual prefere não entrar em detalhes. Só diz que não deu certo. "Sou um curioso. Desta vez, arranjei R$ 10 mil emprestados e começamos com um primeiro protótipo do carro de papelão, outro de madeira, e um último de fibra, até chegar ao modelo de aço".
Montagem carro (Foto: Marcus Büneker/Arquivo Pessoal)Protótipos de papelão, fibra e madeira antecederam versão final  (Foto: Marcus Büneker/Arquivo Pessoal)
Para engrenar o marketing da iniciativa, Dresch enfrentou percalços. Entre 2011 e 2014, o veículo foi apreendido duas vezes, em Lajeado, município de menos de 75 mil habitantes, onde o JAD nasceu.
"Tive que aguardar muito tempo até sair a documentação. Só saiu agora em janeiro. Queria botar o carro na rua", conta.
Inventor relatou a fiscais que pretendia demonstrar eficiência do veículo (Foto: Guilherme Giannoulakis/Arquivo Pessoal)
Inventor levou multa ao tentar exibir vantagem
(Foto: Guilherme Giannoulakis/Arquivo Pessoal)
Nesta semana, ele voltou a ser alvo de fiscais de trânsito. Ao tentar estacionar no sentido inverso para mostrar a eficiência das dimensões do carro, foi multado em R$ 85,13. "O fiscal não gostou da brincadeira, mas tentei justamente mostrar que a função do carro é essa. Daria pra colocar três carros dos meus".
Ao comentar o mercado automobilístico, Dresch afirma acreditar na viabilidade da tecnologia. "A gasolina está com os dias contados, não vai durar muito tempo. Quero mostrar ao mundo que há chance de amenizar e ajustar o trânsito", aposta.
Concebido em 2010, o projeto levou menos de um ano para ficar pronto. "Quando olho pra ele, penso 'será que fui eu que fiz?'". Um sistema de 14 baterias mantém uma corrente contínua que aciona o motor de 5 CV do minicarro, com capacidade para duas pessoas e espaço para bagagens. Tudo pode ser recarregado na luz com um plugue convencional em menos de uma hora. "É para andar na cidade e concorrer com as motos", enfatiza.
Para o inventor, há viabilidade para uma produção em larga escala e no varejo. Ele garante que o consumidor poderia adquirir um JAD por menos de R$ 20 mil. "Estou conversando com umas quatro empresas. Nesta semana, estou mantendo contato com uma companhia de Caxias do Sul".
De acordo com Associação Brasileira do Veículo Elétrico, a eficiência de veículos elétricos a bateria é de aproximadamente 70%, percentual igual a quase cinco vezes a eficiência de veículos convencionais (14% a 18%). A entidade destaca que, no mês passado, uma parceria para fomentar o modelo no Brasil foi firmada entre a Itaipu Binacional e o Centro para a Excelência e Inovação na Indústria do Automóvel (CEIIA), de Portugal.
A primeira fase prevê a implantação de sistemas de controle e monitoramento nos veículos elétricos em Brasília e Curitiba, que devem receber modelos elétricos durante a Copa do Mundo.
Motoristas acatou orientação e reposicionou o veículo (Foto: Guilherme Giannoulakis/Arquivo Pessoal)Carro ocupa menos da metade de uma vaga convencional (Foto: Guilherme Giannoulakis/Arquivo Pessoal)Fonte:http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/04/so-usei-cabeca-diz-aposentado-criador-de-minicarro-eletrico-no-rs.html- Leia Mais - CLICK AQUÍ -