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Por Pedro Luiz Rodrigues
Fotomontagem que rola nas Redes Sociais |
Ontem, no almoço habitual das segundas-feiras, no
Entrecôte, na 305 Sul, Brasília, o cientista político João Paulo Peixoto
lançou-nos, aos demais comensais, antes da sobremesa, de supetão, a síntese de
suas reflexões mais recentes sobre as perspectivas eleitorais para 2014: “se o
Joaquim Barbosa (presidente do STF) resolver disputar, não tenho dúvidas,
poderá sair vitorioso”.
Consultor de marketing político, o jornalista
Amauri Teixeira afirma que um nome novo e de posse da bandeira ética, caso do
ministro Joaquim Barbosa, pode tocar o eleitor e ter um desempenho eleitoral
surpreendente. Ele alerta, contudo, que para se fazer uma “aposta”
consistente, seria indispensável um estudo detalhado do cenário eleitoral e da
percepção do eleitor sobre a imagem do presidente do STF. Segundo Teixeira, a
incerteza sobre o cenário econômico, o imbróglio político e a inclusão de novos
temas, como o casamento entre homossexuais não permitem que se possa ter,
ainda, uma visão clara da agenda eleitoral, em 2014. Isso dificultaria uma
avaliação antecipada das chances de Joaquim Barbosa.
Mencionei, de minha parte, os longos anos de
amizade com o Ministro Joaquim. Manifestei minha admiração por suas qualidades
e observei que sua ríspida impaciência com desvios de conduta e manifestações
de falta de espírito republicano – praticas comuns na estrutura do poder
nacional – transformariam num verdadeiro desafio a arte de governar. Além do
mais, disse, nunca ouvira do Presidente do STF qualquer insinuação de que
tivesse a intenção de disputar eleições.
Mas o debate deve ser livre no meio acadêmico
e entre jornalistas. Avançando em sua reflexão, o professor João Paulo
(pesquisador associado do Centro de Estudos Avançados de Governo e
Administração Pública da UnB) lembrou que no Brasil moderno, a Presidência da
República já foi ocupada por políticos, generais, um intelectual, um operário e
atualmente foi conquistada por uma mulher, economista. Governantes de
diferentes ideologias, classes sociais, estamentos profissionais e gênero.
Por outro lado, observou, em 1985 assistimos a
transição democrática acontecer de maneira pacífica num ambiente de normalidade
política e respeito à Constituição; na mesma linha, em 2002 ocorreu uma
democrática passagem de poder de um presidente scholar para um operário líder
do partido de oposição.
- Todo esse processo se deu sem sinais
ruptura, dentro da legalidade constitucional, sem qualquer afronta ao devido
processo político. Trata-se de uma façanha que poucos sistemas políticos seriam
capazes de realizar.
Os fatos ocorridos em 1985 e 2002, além do
fato simbolicamente relevante da eleição da primeira mulher como governante
máximo do país, em 2010, indicam algumas características dominantes na nossa
sociedade: o gosto pela novidade, a flexibilidade de nossas ainda imperfeitas
instituições políticas, o apreço pela democracia, e acima de tudo um elevado
grau de tolerância – este, um quesito fundamental, aliás, para que prevaleça o
ambiente democrático.
Para o cientista político, o eleitor
brasileiro continua aberto ao novo. “Seja por uma latente descrença nos
partidos políticos tradicionais, seja por uma mobilidade social vigorosa
demonstrada pelo surgimento de uma nova classe média a exigir cada vez mais seu
legítimo espaço econômico e político, ou ainda pela evidência cada vez maior do
vigor e exposição social e política de nossa etnicidade, tão cara a Gilberto
Freire”.
Nesse cenário, uma questão que se coloca
desde já para as eleições de 2014 se refere à manutenção ou não dessas
condições sociais e políticas. E como elas influenciarão o voto nas próximas
eleições presidenciais.
- Os eleitores quererão alguém alinhado com o
atual status quo político ou penderão, mais uma vez, para o lado da candidatura
que represente a novidade, e a nova sociedade que está se formando? Um
candidato que represente o inconformismo com a maneira como as nossas
instituições públicas vem funcionando, ou aquele que possa significar mais do
mesmo? Economia à parte – pois o atual modelo veio para ficar – qual será a
preferência?
Trocando em miúdos, na opinião do professor
João Paulo Peixoto, a escolha popular poderá ser por um democrata inconformado,
que represente efetivamente este desejo de mudança expressado além da retórica
eleitoral.
Por isso e por tudo mais, chegamos à boa
pergunta sobre se não terá chegado o momento de os brasileiros escolherem para
Presidente da República um cidadão cuja retidão de caráter, cuja seriedade e
cuja trajetória de menino pobre à presidência do STF – trilhada com muito
esforço e sacrifício próprios, sem facilidades ou atalhos – transformam-no
inevitavelmente num modelo?
Nesse contexto, o fato de o Ministro Joaquim
Barbosa ser negro, transformaria sua eventual vitória eleitoral no símbolo da
vitória do magnífico esforço da sociedade brasileira de, em pouco mais de uma
geração, tentar acabar definitivamente com o malévolo sentimento do preconceito
racial.
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