"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Prole do mensalão dá as cartas

O escândalo do mensalão legou ao Brasil uma prole cevada na pilhagem. Cristalizou-se a certeza de que o crime compensa. E, se o desfalcado foi o Erário, compensa muito mais.
Todos continuam ricos e soltos. Quem perdeu o mandato já está à margem da liberdade para nova eleição. A papelada em poder do Supremo Tribunal Federal não assusta a pessoas desse jaez, useiras em ser acossadas à luz da lei.
O mensalão, portanto, é o pai da série de escândalos no governo da mãe do PAC.
À época dos episódios que redundaram na CPI dos Correios, Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia. O resultado de seu trabalho na área é outro aumentativo, o apagão.
Suas digitais ficaram fora do pagamento de mesada a parlamentares, mas foi um presente e tanto para Dilma. O vácuo político surgido com a saída de José Dirceu gerou a proximidade dela com Lula e, em consequência, o comando do primeiro escalão.
Daí para a candidatura foi um pulo no escuro. Em resumo, o mensalão é pai também da mãe do PAC, que aproveitou o método, beneficiou-se dele e vê os valores sendo inflacionados.
Com Dilma mandando, coincidentemente, ocorreu um rito de passagem, dos batedores de carteira para os que carregam o cofre. Foi-se o tempo dos trocados (a filmagem pioneira mostrava um servidor dos Correios recebendo R$ 3 mil), começou a era do bilhão (soma das malfeitorias nos Transportes e suas siglas).
Fim dos disfarces: para que ir a agência bancária receber cinquentinha se pode montar um escritório no andar de licitação do ministério? É outra filha do mensalão, a impunidade, aparecendo com uma neta, a tese do “foi o outro”.
Surge o porém de ser impossível fugir da responsabilidade. Os casos que explodem com Dilma presidente foram gestados com Dilma ministra. Se hoje está à frente de tudo, antes estava por trás de cada ação, como se vangloriava junto com o criador.
Sua gestão na Casa Civil deu-lhe a Presidência, sua administração na Presidência só podia dar em manchetes ruins. Ao lê-las, sequer as confronta, por sabê-las irrefutáveis: demite uns antes de a revista chegar aos leitores.
Quer a imagem de caçadora de corruptos, mesmo que a mão de exonerar seja a mesma que nomeou. Com partidos mais poderosos contemporiza.
Ao contrário do que desejam os estrategistas do Planalto, mais inflacionada que o volume dos desvios é a exigência da população. Havia a ilusão de o público se contentar com a queda do número 2 da pasta, do chefe da empresa, enfim, de um semidesconhecido.
A fila andou. Para derrubar ministro, a presidente usa o critério Lula. Capitão da Casa Civil é subjugado pelos fatos? Proteja-o enquanto puder e promova saída festiva, com discursos melosos.
Eis o sistema Dilma: falou a verdade sobre colegas, é demitido; passou vergonha em todos pela quantidade de suspeitas, pede demissão. A outros poupa, de acordo com suas conveniências.
A vontade é manter distância para a lama que os nocivos exalam, não enodoar-lhe as vestes. A artimanha, de sucesso com Lula, se esgotou.
Junto com a integridade da própria pele, a presidente tem de salvar a verba pública, pois os que desviam esta não se importarão em arrancar aquela. Estão pouco ligando para execração, desde que não tenham de devolver dinheiro, pois contam com o esquecimento.
Paulo Okamotto, um dos 40 filhos da lista original do mensalão, ficou tão à vontade em escapar que já foi escalado por Lula para pegar R$ 10 milhões com empresários.
Mas o tempo que premiou o chefe dele habita o passado. A sucessora nem precisa contar com tamanha facilidade, até porque mais uma crise bate-lhe à porta, fala inglês e derruba mercados.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)

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