"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." - Martin Luther King

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Senador Roberto Requião praticou um furto à luz do dia, com testemunhas oculares e gravações eletrônicas - Por Celso Arnaldo Araújo

O Brasil leniente, o Brasil cordial, vai acabar atirando o caso Requião na vala comum do folclore político. Não deveria. Porque o distinto senador da República – um lorde inglês na visão do falso acadêmico e político profissional que preside a casa e avalia muito mal palavras e caracteres – passou dos limites de sua prosaica truculência para aderir ao crime comum, penalmente em nada diferente das saidinhas de banco.
Políticos normalmente são dados ao furto – através de canetadas certeiras na mosca dos orçamentos públicos, compostos por nossos dinheiros. Roberto Requião é o primeiro que pratica um roubo à luz do dia, com testemunhas oculares e gravações eletrônicas. Também é o primeiro a apregoar e bravatear seu crime pelo twitter.

O repórter da Band, vítima do assalto, disse que tentou registrar o surrupio junto à corregedoria do Senado. Foi desaconselhado, não era o foro próprio – é evidente: a corregedoria do Senado não está ali para corrigir senadores. Pensou em recorrer ao Conselho de Ética do Senado – órgão que equivale, em autenticidade, ao Ministério da Marinha da Bolívia e ao Ministério da Justiça do Brasil nos anos sangrentos da ditadura militar. Também não conseguiu, porque o conselho estava ainda em formação (de quadrilha, diriam os mais afoitos). Se o fizesse hoje, teria preferido ter mil gravadores roubados e chamar os ladrões deles: daria de cara com Renan Calheiros e Gim Argelo, vestais da ética senatorial, recém-nomeados para o Conselho.
Eu, se fosse o rapaz da Band, iria ao Distrito mais próximo. O roubo de meu gravador, instrumento de trabalho, crime contra o patrimônio por meios violentos ou ameaça, estava bem caracterizado. A lavração de um B.O. com essa tipificação seria obrigação de um delegado cumpridor das leis – sob pena de incorrer em crime de prevaricação. Se o caso mais tarde fosse levado a um juiz togado, e esse realmente fizesse justiça, agravaria o senador mão pesada pelo delito de defesa cretina. Diz ele ter se apropriado do equipamento para impedir que sua entrevista fosse editada em seu prejuízo – como se Requião, quando fala, não fosse seu próprio advogado de acusação, sem edição, sem retoques de qualquer natureza.
Na versão do senador, seria um roubo preventivo, portanto. Se legítima a modalidade, todos nós estaríamos autorizados a roubar um banco – para impedir que o mesmo, no fim do mês, nos cobrasse uma taxa Selic mensal a título de juros pelo cheque especial, editando nosso extrato a seu bel prazer.
Ciente de sucessivas boçalidades de Roberto Requião, confesso que ainda tinha por ele alguma admiração – pela linguagem intimorata, em contraste com a semântica vaselinada dos políticos em geral, e absolutamente escorreita, com tudo no seu devido lugar. Era, confesso, um viés próprio de quem se indigna com o dilmês elevado à Presidência.
Mas o afano do gravador, na mão grande, colocaria Requião no Presídio da Papuda num país mais sério –se existisse um Papuda num país mais sério.

Fonte: Direto ao Ponto – Veja.com

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